Olá
pessoal, com toda empolgação, divido com vocês a aventura de ter
passado o final de semana com uma galera pra lá de agitada, durante
a viagem à pequena cidade de Cunha/SP, situada no interior paulista.
Isso porque uma viagem que duraria aproximadamente três horas, levou nada
menos que dez horas! Isso mesmo, não escrevi errado, grande parte da
saga aconteceu na estrada. Confesso que sempre gostei de uma boa
história, e a que contarei agora certamente foi uma das melhores que
passei nos últimos anos. É claro que quando as coisas ficam meio
nebulosas, abortar a missão não significa dar um passo atrás, mas
sim garantir a segurança de todos, porém, a insistência mostrou-se positiva no final das
contas.
O meu
primeiro desafio naquele sábado, véspera da 1ª etapa da inédita
Copa Brasil de Corrida de Montanha, que aconteceria no dia 15/03/15,
na cidade de Cunha/SP, foi chegar até o bairro da Penha, localizada
na zona leste de São Paulo. Moro no outro extremo, na zona oeste e
no sábado pela manhã, estava na zona sul
(saindo do trabalho), ou seja, teria que dar um giro de quase 360ºC
para iniciar a verdadeira viagem (considerando o fato de ter que retornar à minha residência para pegar a mochila com as minhas vestimentas e objetos pessoais). Me encontrei com a Malú, amiga de
longa data e outros dois amigos dela, que eu não conhecia até
então: a Maristela e o João. A empatia foi imediata, pessoas
bem-humoradas e em sintonia com o meu propósito esportivo.
Em
seguida partimos para o nosso destino, lembro que uma fina garoa
cobria a cidade. Por alto, sei que Cunha fica logo após as cidades
de Aparecida/SP e Pindamonhangaba/SP, mas daí a saber ensinar
caminhos e rodovias para seguir, já é uma outra história. Sempre
viajei na qualidade de “turista despreocupado”, ora em ônibus
regular, ora em caronas com amigos. O João, que por sinal conhecia
BEM o caminho, fez as vezes de orientador, o que deixou a todos
bastante tranquilos. Em certo momento da viagem, não resisti ao
cansaço por ter trabalhado na noite anterior e tirei um cochilo.
Quando recobrei os sentidos, vi que todos, exceto a Malú (condutora), estavam “pescando”. Foi aí que começaram os problemas! (risos).
Descobri
uma coisa interessante, a praia é sempre uma boa referência para
nos situarmos em determinados momentos. Contemplava aquela bela
praia, que não sei o nome, a partir do meu lado esquerdo, sem
imaginar o equívoco que estava se desenhando. Logo o João notou
algo diferente e prontamente percebeu que estávamos seguindo por um
caminho totalmente errado, já que o “certo”, em muitos casos, é
que a praia sempre esteja à nossa direita. Ou seja, havíamos
desviado da rota principal! Nada de pânico, pois a tarde ainda
resplandecia aquele belo sábado de outono. Antes disso ainda paramos
no “Frango Assado” para almoçarmos ou fazer algo parecido com
isso, já que nos alimentamos com lanches que em nada se assemelhava a uma
refeição que o horário pedia.
Convencido
de que retomaríamos o caminho correto, fiquei despreocupado quando o
João assumiu o controle da situação indicando a rodovia que
deveríamos seguir. Passamos por belas praias, sendo Ubatuba/SP a
mais convidativa para uma parada em um de seus quiosques. Aquilo
ficou apenas em pensamento, tínhamos mesmo que chegar ao nosso
objetivo, que era retirar os kits, jantar e descansar tranquilamente
para o desafio do dia seguinte. O plano estava todo traçado, mas
novamente algo estava ERRADO, fomos parar em Parati/RJ, isso mesmo,
cruzamos fronteira para fora do estado. Segundo o João, a cidade de
Cunha poderia ser acessada a partir da divisa carioca, logo, não estávamos
no caminho errado, mas sim numa rota alternativa mais longa
(considerando o local de onde viemos).
Resquícios
de um sábado ensolarado davam passagem a uma noite silenciosa, cuja
estrada se mostrava cada vez mais deserta. Vários filmes me passaram
pela cabeça: Rota 66, Não Há Vagas, Estrada da Morte e etc. O lado
bom foi sempre manter a calma, toda intervenção do João, que era
prontamente censurado pela Maristela (sua esposa), me fazia rir, era
engraçado como eles debatiam a situação (começo a rir só de
lembrar). A essa altura nem era mais a Malú ao volante, sendo
assumido pela Maristela. Entramos na parte “desconhecida” de
Cunha, o lado “carioca”, se é assim que podemos definir, o clima
era de apreensão, ruas mal iluminadas, estradas que revelavam um asfalto "esquecido", mesclado com grandes imperfeições no solo, o que pode ser considerado como verdadeiras armadilhas.
Obtivemos
a informação de que chegaríamos ao centro de Cunha se
prosseguíssemos por aproximadamente quarenta e cinco quilômetros
seguindo uma estrada totalmente fúnebre, com o agravante das chuvas
dos dias anteriores terem castigado a estrada. Beirava às 20h00
quando decidimos fazer o caminho de volta, mas de volta à São
Paulo, por alguns instantes chegamos a desistir da corrida. O volante
havia trocado de mãos novamente, dessa vez o João assumia o
controle das ações, já que as duas meninas estavam consumidas pelo
cansaço. Uma viagem relativamente curta tinha tomado proporções
fora de qualquer previsão, fugido à regra sob todas as perspectivas. Eu
encarava tudo na maior tranquilidade, exceto pela chateação de ter que
desistir da prova.
Foi aí
que uma luz, na verdade uma placa (risos), surgiu mostrando que se
pegássemos determinada rodovia, chegaríamos a Taubaté/SP e logo, a
tão desejada Cunha. Derrubamos o pessimismo e a corrida entrou
novamente nos planos. Mas o preço foi alto, seguimos por mais umas
três horas de viagem por uma estrada totalmente íngreme, subíamos
em curvas sinuosas e muito perigosas, a mínima desatenção poderia
causar um acidente. Praticamente não havia outros carros,
tínhamos o caminho só para nós, o que deixava o ar mais sinistro
ainda. De tempos em tempos, surgia uma mórbida luz no horizonte que
crescia a medida em que outro veículo se aproximava e passava por
nós no sentido contrário. Elogios aqui para a qualidade do asfalto,
em perfeitas condições, o que era uma preocupação a menos. Também
não chovia, outro motivo a ser comemorado.
Parecia
uma estrada sem fim, estávamos apreensivos pelo fato de haver poucas placas indicativas, será que estávamos mesmo no caminho
certo? Pois bem, o final foi feliz, chegamos finalmente em Cunha, mas
não sem cometer um último equívoco, ao entrar pelo portal
principal da cidade, fomos informados de que teríamos que sair
(pasmem, sair de um lugar em que procuramos o dia todo!), e acessar a
entrada seguinte, onde estava localizada a pousada. Mas isso não
custou nada para quem viajou o dia inteiro. Chegamos à pousada, por
volta das 23h00, completamente exaustos, mas compensado pelo fato de
ser um lugar bem aconchegante. Tomamos um banho e fomos direto dormir, já que
teríamos que acordar bem cedo para encarar os morros daquela cidade.
Pousada |
Acordei
às 06h00 moído do dia anterior, como o café da manhã da pousada
ainda não estava pronto, fomos desjejuar na padaria. A corrida
estava marcada para as 08h00, tudo havia entrado nos eixos novamente,
conseguiria correr e ainda voltar à capital paulista com tempo de
sobra para descansar um pouco e trabalhar à noite (sim, o meu longo
dia estava apenas começando). Retiramos o kit, uma camiseta
razoável, número de peito com chip acoplado e nada mais. Fiquei
meio frustrado, paguei R$ 159,00 na inscrição, além de ter doado
três livros (boa iniciativa dos organizadores), penso que poderiam
ter caprichado mais, ainda mais por ser um evento de nível nacional
(diversos estados envolvidos nas demais etapas).
Eu, Maristela. João e Malú |
Como
não bastasse os contratempos do dia anterior, mais um imprevisto
surgiu: a largada fora adiada para as 09h00, o que me deixou
preocupado, pois o horário que eu havia planejado não contava com
esse atraso, teria que rever meus planos, o que incluiria repensar se
valeria a pena correr os 21Km, inicialmente previstos, ou reduzir
para os 12Km (distância alternativa do evento). Mantive o objetivo
de correr 21Km, mas com a condição de que tentaria fazer em até
pelo menos três horas, com isso os planos de regressar à São Paulo
sem sustos seria preservado (o risco acabou valendo a pena). Encontrei no evento o Jorge, o Toninho e
outras pessoas que conhecia de vista. O dia estava aberto, o sol deu o ar da graça e espantou qualquer possibilidade de chuva.
Belo visual |
Quando
a corrida começou, percebi logo de cara o quanto seria difícil, uma
subida em asfalto fez as honrarias da casa. Não lembro bem quando
acessamos a área rural, sei que estava concentrado, preocupado
apenas em me poupar, evitando qualquer desgaste que pudesse
comprometer o meu rendimento. Não queria contar com a sorte, já que
o final de semana estava pregando mais peças do que ajudando, por
isso segui de forma cadenciada, sem qualquer ação precipitada.
Cunha é conhecida por ser uma cidade com muitos morros, região
cercada de muito verde, confirmei tudo isso quando deparei com a
primeira “parede”, uma subida inacreditável, lembro que até ri
de forma forçada naquele momento. A corrida em si foi tomada por uma
exploração do tipo “trekking” guiado, daqueles em que
pagamos um alto preço para contemplar belas paisagens, sem pressa
alguma.
Bois pelo caminho |
No meu
caso, a pressa era uma dolorosa sensação, queria concluir o mais
depressa possível, porém, os obstáculos que surgiam sucumbiam com
as minhas pretensões. Resolvi parar de “remar” contra, onde era
possível correr, eu corria, onde a caminhada era o inevitável,
caminhava sem pensar nas dificuldades futuras. Um problema de cada
vez, chega de sofrer, pensei. Mas o sofrimento parecia só aumentar,
um percurso que exigia concentração, preparo físico, calma mental
e muita força de vontade. Até bois e vacas surgiram no caminho,
nada que causasse espanto, na verdade eu que devia causar estranheza
aos pobres animais, por invadir o seu impassível território. As
descidas eram igualmente complicadas, muitas pedras soltas, valas
fechadas e abertas, mato espinhoso e tudo o que mais poderia ser
considerado armadilha da natureza. Tomei cuidado para não me
enroscar em cercas de arame farpado que haviam pelo caminho.
Montanhas |
Uma
grande falha da organização foi não ter marcação de
quilometragem, isso me deixou desnorteado, não tinha noção de
quando podia forçar ou reduzir a passada, sem dúvidas, me
atrapalhou bastante. Em determinado momento, quando já vencera
grandes obstáculos, cansado, mas com gás para seguir por mais bons
quilômetros, adentrei a cidade e finalizei a prova. Fiquei feliz,
mas também com uma ponta de frustração por ter concluído com a
sensação de que poderia ter corrido com mais “profundidade”, se
é que me entendem, ter exigido mais do meu corpo, mesmo com a
preocupação inicial em querer apenas concluir o percurso. O tempo
final foi de 02h32min, abaixo do que eu imaginara inicialmente, ainda
mais após ouvir das pessoas que o percurso era tortuoso. De certa forma foi complicado, mas
pensei que seria um “punk” elevado ao cubo (risos). Sofri mais
pelo contexto do final de semana do que pela prova em si.
Linha de chegada |
Para
compensar todo o esforço, uma bela medalha como recordação. Não
falei sobre a hidratação, costumo comparar esse quesito com um de juiz de
futebol: se não foi lembrado é porque teve uma boa atuação. Assim
defino o serviço oferecido pela organização. Sempre pensar muito,
retornamos à pousada para finalizar a estadia, tomar um banho e
arrumar as coisas. Retornamos à São Paulo da forma mais tranquila
possível. A viagem seguiu sem qualquer imprevisto, até estranhamos
(risos), depois de tantas peripécias pelas quais enfrentamos naquele final de semana. Foi divertido, gostei muito de conhecer a Maristela e o João,
já temos planos de participar de outras corridas. O texto ficou
longo, para não cansar muito, recomendo que leiam em partes…
Observação:
exceto a foto oficial da prova e a da pousada, essa última
fotografada pela Malú, as demais eu retirei da página pessoal do
Antonio Carlos Meira (Toninho). Agradeço por elas!
Galeria de fotos:
Antes da prova |
Pós-prova |
Com o grande Antonio Meira (Toninho) |
Mais um desafio completado! |
Parabéns Daniel, você é um vencedor.!!!!
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