Olá pessoal, já instalado em
San Pedro de Atacama, acordei na quinta-feira pronto para a primeira aventura:
conhecer o Vale do Arco Íris. Ainda no hotel tomei um rápido café, que apesar
de ser no meio do deserto, me senti como se tivesse numa capital emergente
(risos). Para minha surpresa, havia apenas mais duas pessoas inscritas no
passeio, a Raquel e a Monique, ambas do Rio de Janeiro. A viagem até o local
onde se iniciaria o trekking durou cerca de duas horas, as paisagens ao longo
do percurso eram incríveis. Ao chegar, o guia perguntou o quanto estaríamos
dispostos a caminhar, chegamos a um consenso de que 10Km seria bastante razoável.
A partir daí, seguimos por caminhos de terra batida, onde as montanhas ganhavam
espaço, enquanto que o sol, a medida que o tempo passava, mostrava-se cada vez
mais quente.
Por que Vale do Arco íris?
Na hora pensei que haveria muitos arcos íris no céu, tal ingenuidade foi
diluída ao observamos as grandes montanhas no horizonte, todas elas
apresentavam cores distintas umas das outras, conferindo um visual que eu
jamais havia visto. Deixarei os detalhes por conta das fotos, uma mais bela que
a outra, onde eu tive a rara felicidade em registrar. As meninas estavam
empolgadíssimas, aproveitei que elas adoravam fotografar e pedi que tirassem
várias fotos minhas como recordação. O passeio durou até as 13h00, momento em
que regressamos a San Pedro de Atacama. Antes disso, o guia fez uma parada sob
um local, que popularmente é conhecido como o “Vale da Morte”, a temperatura já
devia estar na casa dos 30ºC, isso não impediu outra sessão de fotos (risos). A
sensação era a melhor possível, o lugar era realmente “deserto” em todos os
sentidos, um raro momento em que não havia outros turistas, tínhamos aquela
onipresente paisagem somente para nós.
Usei o restante do dia para
conhecer a cidade e também procurar algum lugar para jantar. Pelo caminho
encontrei de tudo: turistas (boa parte brasileiros), artistas de rua, encontrei
por acaso o Kiko (organizador da maratona), dezenas de restaurantes, cachorros
correndo de um lado para o outro, lojas de objetos locais e muitas outras
curiosidades. San Pedro de Atacama é tão pequeno que não requer muito esforço
para conhecer por completo. Em menos de duas horas é possível ir e voltar pela
avenida principal, sem perder algum ponto, inclusive as adjacências. Detalhe:
tudo pode ser feito a pé. Já os passeios, todos eles fora da cidade, necessitam
de veículos do tipo “4x4” ou ônibus. Fui alertado a respeito do uso do protetor
solar, já que os raios solares eram intensos e prejudiciais à pele, caso não
fossem devidamente protegidos. Sentia um calor estranho, nada que causasse muita
transpiração, no entanto, o sol era traiçoeiro, a sensação “abafada” tomava
conta do lugar.
Ao anoitecer fui a um
restaurante muito agradável (também pelo desconto aos que fossem participar da
maratona – risos), onde experimentei uma massa, acompanhado de uma cerveja
local (afinal, também sou filho de Deus). Aos poucos, o calor ia dissipando com
o vento que assumia o papel principal, de fato, como era esperado, forte calor
durante o dia e frio intenso a noite. O lugar tinha ares de tranquilidade, além
de um bom repertório de músicas (confesso que adoro músicas de origem latina). Ficava
um pouco fora do eixo de grande movimento da cidade (uns duzentos metros da
avenida principal), talvez poucos conhecessem ali e por isso nunca estava
cheio. Após preencher o estômago com uma boa refeição, retornei ao hotel a fim
de descansar, já que ainda teria pela frente o “Tour Astronômico”.
Por volta das 23h00 fui a
uma espécie de ponto, situado na avenida principal, de onde partiria o van ao
próximo passeio. Foi uma viagem curta, de uns trinta minutos, estava muito
frio, apesar disso, eu estava devidamente preparado, usando luvas, touca e
roupas pesadas. Ao chegar, a orientadora do local pediu (em espanhol, inglês e
alemão) que todos desligassem as lanternas. Estava completamente escuro, não
era possível ver absolutamente nada, exceto as estrelas, um cenário
impressionante. A orientadora deu uma palestra de aproximadamente uns quarenta
e cinco minutos, uma verdadeira aula de astronomia que, apesar de ser um
assunto de grande relevância e o conteúdo dominado pela guia, achei um tanto
maçante, estava com muito frio e sono, sem contar a hora, nunca em minha vida
havia tido uma aula de astronomia em três idiomas, a meia noite, no meio do
deserto, passando frio e praticamente dormindo em pé – risos. Como não poderia
ser diferente, sempre havia aquele “cara chato”, que sempre faz um monte de
perguntas e acaba prolongando a aula.
Já a segunda parte compensou
a primeira, passamos a observar as estrelas com o auxílio de vários telescópios,
onde era possível ver nitidamente a lua, o planeta Júpiter, além de outros
astros. O que mais me impressionou foram os anéis de Júpiter, parecia um
desenho, mas aquilo era real. Depois disso, o grupo foi conduzido a um local
fechado, onde foram servidos chás de vários sabores, não lembro qual escolhi,
só lembro que estava bem amargo. Sentamos em bancos dispostos em posição “u”
quando um senhor de meia idade contou várias histórias, desde a origem do
lugar, passeando por vários episódios da história (relacionados a planetas,
estrelas cadentes, cometas etc.). Já passava das duas horas da manhã quando
retornamos a San Pedro.
Segundo dia: Salar de Tara
Não tive muito tempo para
descansar, dormi cerca de três horas, pois na sexta-feira pela manhã haveria
outro tour: o Salar de Tara. Pelas referências obtidas, fui informado de que
seria um dos melhores passeios, situado num dos pontos mais remotos da região.
Tive a companhia da minha amiga Luciane Mildenberger, que possui o site
Correndo a Mil, uma menina espetacular, linda, simpática, alto astral e muito
empolgada com a viagem. O trajeto durou cerca de duas horas ou mais, lembro que
teve uma parada para fotografar. Quando chegamos ao Salar de Tara, parecia cena
de filme: um vasto de infinito deserto, algumas “miragens” no caminho (na
verdade Monges de Pacana, grandes
rochas verticais, mas qualquer um podia jurar ser algo provido da imaginação).
O calor novamente assumia o centro das atenções, o grupo de turistas, dos mais
diferentes países, acompanhavam o guia sem muita pressa, realmente era um
visual que “embriagava” os olhos.
Outra coisa que vocês
precisam saber: estávamos nada menos que 4.400 metros altitude, isso
significava que muitos poderiam sofrer com aquela sensação, com quedas de
pressão, náuseas, dores estomacais etc. Já estávamos com quase três horas de
tour e eu não havia sentido nada de anormal, até aquele momento o corpo reagia normalmente
a situação apresentada. Caminhava a passos lentos, nada de pressa, o deserto
era traiçoeiro, tencionava realizar o passeio da melhor maneira possível. Em
determinado momento, deparei com as “Catedrais de Tara”, gigantescas esculturas
de pedras, que lembravam antigos castelos medievais. Seguiu-se uma sequencia
insana de fotos, queria tirar foto a cada passo que dava, uma locação para
filme de faroeste – risos.
E como tudo no deserto é
misterioso e às vezes inexplicável, chegamos a um enigmático lago tomado por
flamingos. Pela posição deles, pareciam estar em reunião, visto a disposição
organizada e simétrica das aves. Fizemos uma pausa para um lanche, antes de
tomarmos o caminho de volta. Senti uma leve sensação de mal estar, fato que
atribuo pelas poucas horas de sono, apesar dos agravantes do local
(temperatura, umidade etc). Foi um passeio caro, perto dos duzentos reais, mas
que valeu a pena cada centavo. A Luciane foi a minha fiel companheira nesse dia
inesquecível, pois explorar uma região de restos vulcânicos, areia fofa, formações
rochosas abstratas, flamingos entre outros mistérios da natureza, certamente é
algo que ficará marcado para sempre. Esse é o grande barato da vida: a cada dia
que passa temos a nítida constatação que temos muito que explorar da vida.
Retornamos por volta das
16h00, realmente havia sido um passeio longo, tirei umas horas de sono, para
recarregar as energias. A noite, fui jantar com a minha amiga Luciane no mesmo
local da noite anterior (ela adorou o lugar). Dessa vez, deixei a cerveja de
lado e optei pela boa e velha coca cola, com a fogueira acesa, tivemos uma
ótima refeição coberto por aquele céu estrelado (além de ótimas risadas). Como
não poderia ser diferente, tive que retornar ao hotel, já que a programação
para sábado exigiria o meu despertar nada menos que as 03h00 da madrugada! Isso
mesmo, o próximo tour seria conhecer o famoso “Geyser del Tatio”, fenômenos
naturais em que vapores saem através de fissuras na crosta terrestre
(combinação de rios congelados subterrâneos com rochas quentes). E também o dia
para a retirada do kit para a temível maratona no dia seguinte.
Terceiro dia: Madrugando
para ver o Geyser del Tatio // Retirada do kit da Maratona
Acordei muito cedo, o bom
foi que o hotel preparou um lanche, já que não foi possível aproveitar o café
da manhã. Devia estar uns 4ºC naquela madrugada, mais uma vez roupas pesadas
para combater o frio, dessa forma, a viagem com o grupo de turistas durou
aproximadamente uma hora de quarenta minutos. O guia falava castellano e inglês, fornecia algumas
informações sobre os gêiseres, sobre a temperatura entre outras coisas. Ao
chegarmos foi difícil sair da van, pois a temperatura já havia despencado para
os quatro graus negativos, isso porque eu estava praticamente uns cinco quilos
mais pesado de tanta roupa (risos). A exemplo do dia anterior, também estava a
aproximadamente 3.800 metros de altitude, por isso nenhum esforço demasiado, já
poderia sentir efeitos colaterais.
Outro passeio fantástico,
observar as atividades dos gêiseres foi algo espetacular, difícil explicar,
pude fotografar rente às fissuras, o que me proporcionou uma experiência sem
igual, nunca vi algo parecido antes. Um rápido lanche foi servido, com pão com
presunto, chocolate quente e biscoitos. Mas o ponto alto foi quando o guia
falou a respeito do lago dos gêiseres, a quem tivesse interesse poderia entrar
e permanecer por uns quarenta minutos, relutei no início, depois gostei da
ideia, mesmo com aquele frio encarei o pequeno lago. Parecia uma verdadeira
piscina aquecida, muitos turistas fizeram o mesmo, tinha levado toalha
(conforme recomendação recebida no ato da compra do ticket para o passeio),
então quebrei mais um paradigma e entrei na água. Fui surpreendido pela Raquel
(do 1º passeio), que me encontrou e tiramos várias fotos no lago.
Nesse passeio conheci o
casal Thiago e Daniell a Cerdeiro, que Curitiba, que estavam lá para o evento do
Mountain Do. Já no retorno, fizemos uma pausa para observar um lago onde uma
espécie rara de patos pretos jazia, também observei grupos de lhamas correndo
livremente pelas montanhas afora. Um momento inusitado, pensando que o passeio
havia terminado, ainda no caminho de volta, paramos num povoado muito pequeno,
penso que não seria nem notado caso não tivesse parada programada. Chamada de
Machuca, o lugar era extremamente silvático, entranhado entre montanhas, pouco
difuso e de difícil localização. Havia apenas uma rua, precisamente uma
demarcação de um caminho e pouquíssimas casas compunham o local, além de uma
igrejinha, afirmando mais uma vez que a religiosidade é uma das prática sempre
cultuada, independente do lugar. Tive o prazer de experimentar o churrasco de
lhama, uma carne macia e deliciosa.
O retorno foi tranquilo,
cheguei a San Pedro e combinei com as meninas (Raquel e Monique) de almoçarmos
juntos. Nesse dia, estava programada a entrega do kit de participação da
maratona. Tirei várias fotos, encontrei alguns brasileiros, entre eles o casal
João e Aparecida Guimarães, que sempre estão nas corridas de montanha e também
fiz novas amizades. Assisti ao congresso técnico, feito pelo Kiko (organizador
do evento), ele transmitiu algumas informações importantes, reiterou sobre os
cuidados que deveríamos ter no deserto, disse que a maratona era um evento
comemorativo e que não havia tempo limite para término (consta no regulamento
como algo de praxe), mas que faria todo o possível para incentivar todos a
terminarem a prova. Dicas importantes a respeito da sinalização do percurso, do
desvio daquelas que correriam as distâncias menores (23 e 6 km
respectivamente), além da hidratação.
O kit era composto de uma
camiseta, um boné longo (próprio para o deserto), uma cinta de hidratação
(adorei a ideia), além de uma flanela para ser utilizada no rosto a fim de
inibir poeira desértica. A minha “ficha” estava começando a cair naquele
momento, depois de algumas aventuras, lá estava eu, no Deserto do Atacama,
prestes a iniciar um dos maiores desafios da minha vida. Eu encarava tudo
aquilo com muita tranquilidade, muita gente estava “pilhada”, notei alguns
corredores tensos, preocupados, em êxtase, eu apresentava exatamente o oposto,
não sei se pelo fato de correr há mais de dez anos e conhecer bem a atmosfera que
antecede uma prova, nem mesmo a contusão que me atrapalhou nos treinos alterava
o meu semblante. Não sei se o excesso de confiança (eu sabia que de um jeito ou
de outro eu ia terminar a prova) fosse a razão temerária que estava sentindo
naquele momento. Até aquele dia nunca abandonado uma prova (no decorrer dela),
sabia que estava me arriscando muito, mas mesmo assim não me deixei abater um
só instante.
As meninas me acompanharam
no jantar, fomos breves, pois tínhamos que recolher cedo, afinal, o dia seguinte
prometia ser o mais extenuante de todos, seriam os quarenta e dois quilômetros
mais longos, quentes, arriscados, traiçoeiros e “maravilhosos” que já havia
feito até então. Deixei tudo preparado, pedi a recepção do hotel que me
acordasse (precaução nunca é demais), o momento era de concentração e descanso
(do corpo e da mente). No próximo capítulo, contarei em detalhes esse grande
desafio, já que para conhecer o deserto, é preciso atravessá-lo...e foi o que
eu estava disposto a fazer!
Paisagens incríveis e inspiradoras!
ResponderExcluirAlém de um belo guia para futuros "exploradores"!
Parabéns pelo blog, Daniel!
bjs
Kátia
Oi Daniel,
ResponderExcluirMuito legal sua aventura no Atacama, um dia tenho vontade de fazer esta prova!
Abs
Rodrigo Lucchesi
http://revistacontrarelogio.com.br/blogs/linhas-de-chegada/
@rdlucchesi
Parabéns pelo blog. Muito bacana!!
ResponderExcluirUauuuuu!!!! Só esses passeios por lugares improváveis e fora do circuito turístico, (no sentido de juntar multidões, rs), valeu seu 42 km!!!! Sensacional!!!! Realmente existe lugares inexplicáveis, inexplorados e não conhece-los, experimentá-los é algo fora da realidade de um corredor aventureiro como você! Parabéns!!! Adorei! bjo
ResponderExcluirParabésn por este desafio emocionante!!
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