São Bento do Sapucaí |
Olá amigos, este é o último
capítulo da Copa Paulista de Corridas de Montanha 2012, estou na cidade de São
Bento do Sapucaí/SP para a última etapa do circuito, prevista para o dia
25/11/12. Foram muitos desafios ao longo do ano, muitos
obstáculos, muitas risadas e vitórias alcançadas. Vitórias que não precisam ser
aquelas destacadas apenas aos primeiros colocados, me refiro a todos os
envolvidos neste empreendimento que gerou a soma de 11 etapas de corridas de
montanha. Desde os mais fiéis ao circuito, que participaram de todas as provas,
até aquele que foi apenas em uma corrida, mas que não deixou de prestigiar a
proposta original do evento: a de proporcionar uma experiência diferente, que
permitiu o atleta superar seus limites, tendo a natureza como grande oponente
e/ou aliada nessa aventura.
Mandala completa |
Cheguei á cidade de São
Bento do Sapucaí ainda na véspera, dia em que iniciou a entrega do kit de
participação. Optei por ir caminhando até o Bairro do Quilombo, cuja distância
era de aproximadamente dois quilômetros do centro da cidade. Aproveitei e
fotografei belas paisagens pelo caminho. O kit continha uma camiseta na cor
azul clara, número de peito, chip de cronometragem, uma canequinha, uma revista
Go Outside, uma bananinha de
Paraibuna, além de diversas propagandas. Para os atletas que participaram de
todas as etapas até aquele momento, a organização entregou gratuitamente um
suporte de madeira que seria destinado ao posicionamento das medalhas,
formando-se assim, a grande mandala. Apesar de ter corrido dez provas, das onze
possíveis, eu fiz jus ao objeto pelo fato de ter estado inscrito na única prova
que me faltou participar: a IV etapa em Campos do Jordão (fiquei doente à
época).
Pousada Solar dos Colibris |
Pousada Solar dos Colibris |
Já com o kit em mãos,
retornei à Pousada dos Colibris, localizada a cerca de trezentos metros do
Restaurante Sabor da Serra, local em que ocorreria o jantar de massas. O
restaurante é confortável, com uma boa decoração, por estar cheio naquela
noite, o serviço de atendimento não foi dos melhores, ainda mais na hora de
pagar, quando permaneci na fila por mais de vinte minutos. Mas isso não tirou o
meu bom humor, afinal, as minhas atenções estavam voltadas para a prova, já que
não conhecia o percurso e não tinha referência alguma a respeito. Só ouvia
falar mesmo da “Pedra do Baú”, porém, o percurso se limitaria pela Serra do
Coimbra, o que para mim dava na mesma, uma vez que não conhecia nenhum dos
dois. De uma coisa eu tinha certeza: a chuva certamente deixaria o percurso
mais “pesado” e com um grau de dificuldade ainda maior aos participantes.
O domingo amanheceu nublado
e com uma garoa fina, contexto perfeito para permanecer na cama até meio-dia
(risos). Acordei por volta das 06h00 e rapidamente me troquei, sabia que
levaria de trinta a quarenta minutos caminhando até o local da prova. Quando
iniciei a caminhada pela subida de acesso ao Bairro do Quilombo, um carro que
também ia ao mesmo destino me ofereceu carona, aceitei, pois ganharia tempo e
pouparia energia. Cheguei ao Bairro do Quilombo antes das 07h00 (a largada
oficial das suas distâncias, o curto 9Km e o longo 13Km seria às 08h00). Aos
poucos os atletas foram chegando, as ruas sendo ocupadas por pessoas, um lugar
que certamente passa boa parte do ano imerso em tranquilidade, estava
excepcionalmente movimentado com pessoas ávidas por desafios. Para os
corredores de montanha, a máxima que prevalece é o de “quanto pior, melhor”.
Por ser a última etapa, a
organização dobrou a pontuação da prova para os participantes, resultado disso
seria refletido no ranking geral e por categorias (idades), o que despertou o
interesse de boa parte dos atletas. No meu caso, bastaria finalizar a prova
para manter a segunda colocação no ranking masculino dos atletas de 25 a 29 anos.
Confesso que isso nunca foi uma preocupação, porém, a cada prova concluída, tal
pontuação passou a ganhar uma importância relativa, ainda mais sabendo que a
chance de estar bem posicionado no final do ano já era uma realidade possível
de acontecer. Aproveito para mostrar o meu pleno contentamento com a forma de
pontuação, onde os pontos são calculados sobre aquilo que o atleta correu,
fazendo com que o resultado seja justo e imparcial.
A largada ocorreu às 08h00
em ponto, pontualidade essa que foi uma constante das Corridas de Montanha ao
longo do ano, algo que deve ser enaltecido. Seguimos por uma rua estreita do
Bairro do Quilombo, onde em pouco mais de três minutos iniciou-se uma
verdadeira ladeira por uma estrada de terra, totalmente castigada pelas chuvas.
Nem bem havia completado o primeiro quilômetro e boa parte dos atletas
(inclusive este que vos escreve) estavam caminhando. Em determinados instantes
era possível trotar, mas tudo em vão, pois subidas e mais subidas apareciam
pela frente. A minha sensação era de cansaço, porém, o corpo estava em boas
condições para correr, bastava apenas o percurso apresentar condições
favoráveis. A verdade era que até o quilômetro cinco, não havia conseguido
correr, impotência imposta pela altimetria da prova. Novamente contamos com a
presença do Jimmy Cliff, assim
chamado o cão do corredor Felipe Vizioli, que acompanhou o nosso amigo durante
toda a prova.
Depois de muito caminhar,
finalmente o trajeto teve uma mudança estratosférica, já que os barrancos deram
lugar às descidas no melhor estilo “queda livre”, foi a partir daí que a prova
começou para mim, corria feito um “cavalo doido”, pisava sem qualquer
parcimônia pelos buracos, poças d’água, trechos muito escorregadios, a fim de
compensar a peregrinação dos quilômetros anteriores. Até mesmo numa trilha
sinuosa, segui firme e sem titubear, em alguns momentos levei tombos, todos
eles caindo sentado, nada que me incomodasse. Parecia o cenário perfeito de um
filme de terror, pois havia muita neblina, quem assistiu o filme “Pânico na
Floresta”, sabe muito bem o que estou dizendo. Só de pensar que em 2013 essa
prova será noturna, vale a pena adquirir boas lanternas.
Após o término da trilha, um
verdadeiro “clarão” abriu diante dos meus olhos, num trecho descampado, onde
era possível fazer um giro de 360º pelo lugar, pisei num local extremamente
liso e para evitar a iminente queda, segurei o meu corpo com toda força
possível, momento em que senti um “tranco” na escápula direita (região superior
das costas). Essa dor era uma ‘velha conhecida’ (contratura escapular), para
não abandonar a prova (já que ainda estava no nono quilômetro), diminui
drasticamente a velocidade e segui praticamente os quatro quilômetros restantes
correndo com uma dor insuportável, que certamente pioraria quando o corpo
esfriasse. Nunca havia desistido de uma prova e não seria naquele dia que tal
fato iria acontecer. Tentei permear os meus pensamentos com coisas positivas,
sabendo que após aqueles árduos quatro quilômetros, teria todo o tempo para me
recuperar.
Terminei com o tempo de
1h36min, razoável para todos os percalços enfrentados, fui direto para a
ambulância da prova, onde recebi o primeiro atendimento (spray). Como nada é de
graça, a última etapa da Copa Paulista de Corridas de Montanha cobrou um preço
alto a todo aquele esforço empreendido ao longo do ano. Me considero um
sobrevivente à todas as dificuldades impostas pela natureza e me vejo feliz em
poder terminar este depoimento ansioso pelos desafios de 2013. Ainda que usando
um colete cervical, tenho orgulho de tudo o que fiz, desde os pares de meias
jogadas fora (impossível reaproveitá-los – risos), até os arranhões, quedas e
situações inusitadas, nada disso tira o meu estímulo em continuar buscando
vencer os desafios mais encardidos que possam aparecer. Frutas e isotônicos
foram disponibilizados no pós-prova, bem como a premiação, que aconteceu sem
atrasos.
Retornei à pousada Solar dos
Colibris, graças a uma providencial carona do Eder Galhardo, corredor nato, que
manteve a liderança na faixa etária dos 30-34 anos. Tomei um banho, tirei todo
a sujeira do tênis e ainda com dores latentes nas costas, fomos até o
Restaurante Sabor da Serra, local em que seria realizada a cerimônia de
premiação do ranking. Não pensei duas vezes, para comemorar pedi uma garrafa da
cerveja artesanal “Baden Baden – Bock”, de 600ml, e tomei-a inteiramente
sozinho (risos). Um nítido contraste em relação a noite anterior, senti-me mais
a vontade no restaurante, o serviço estava muito melhor, o que mudou o meu
conceito a respeito do estabelecimento. A comida estava ótima, a carne macia e
o clima era o melhor possível. Juntou-se a mim, ao Eder e a Renata o grande
corredor Jorge de Jesus, onde tivemos um almoço bem agradável.
A premiação aconteceu no
horário marcado, às 14h00, sendo a cerimônia aberta com as palavras de
agradecimento do diretor do evento, o Fabio Galvão Borges, que enalteceu o
crescimento desse segmento de corridas, além de trazer algumas novidades para
2013 (o calendário do próximo ano já está disponível no site www.corridasdemontanha.com.br). A
primeira premiação foi do ranking geral longo, masculino e feminino, com os
três primeiros e primeiras subindo ao pódio. Além do troféu, esses atletas
ganharam um camelbak (mochila de hidratação). Depois disso, aconteceu a entrega
dos troféus aos 10 primeiros colocados do ranking curto, em que todos, sem
exceção, marcaram presença, surpreendendo o próprio Fábio. Tudo foi acontecendo
de forma muito rápida, havia também vários fotógrafos, entre eles o Tião
Moreira, os da Extreme Tours, além de outros, que registravam todos aqueles
momentos.
2° lugar Ranking 25-29 anos |
A minha premiação foi um
misto de ansiedade e alegria, contente por ter tido um bom rendimento ao longo
da temporada (havia pegado pódio em quatro oportunidades: São Roque, Paraibuna,
Piquete e Mogi das Cruzes), e também por saber que eram boas as chances de
levar algum prêmio no ranking. Consegui manter a segunda posição no ranking
25-29 anos, o que me levou ao pódio pela quinta vez. Todos que subiram ao pódio
ganharam uma camiseta especial da “Copa Paulista de Corridas de Montanha 2012”,
além de bananinhas de Paraibuna e chocolates Suisse, cortesia dos patrocinadores do evento. A parte mais
“salgada” ficou para o final (hora de pagar a conta – risos).
Pode ser pendurada na parede |
Para não passar
despercebido, momento antes da prova, o chip de cronometragem do Antônio Carlos
Meira (o famoso “Toninho”) havia desaparecido, lembro que o Jorge e eu procuramos
e reviramos o carro dele umas três vezes e nada. Nós suspeitamos de que alguém
poderia tê-lo encontrado e inadvertidamente colocado no pé e corrido. Pois bem,
assim que o Toninho cruzou a linha de chegada, foi direto à mesa de marcação de
tempo e perguntou se o número dele havia cruzado a linha de chegada, ele
recebeu a seguinte resposta “Sim, o chip
foi marcado assim que o senhor passou no tapete”, foi aí que o Toninho
percebeu que o chip estava sob um de seus pés, dentro do tênis! (risos). Mais
uma boa história que só acontece com o Toninho.
Toninho com o chip antes do "sumiço" do objeto |
São momentos como o citado
acima que me faz gostar tanto desse tipo de prova. Para finalizar, quero
aproveitar o espaço para agradecer a todos os envolvidos, desde a organização (cito
o Fábio Galvão e a Juliana Ribeiro), que me concedeu o espaço no site Corridas de Montanha para dividir
com todos a experiência de como é correr uma prova de montanha. Tive o prazer
de conhecer muitas pessoas, de fazer boas amizades, de escutar boas histórias,
de rir muito e passar por momentos inesquecíveis. Não faço deste artigo uma
despedida, é apenas um “até logo”, pois em janeiro próximo teremos a abertura
da Copa Paulista de Corridas de Montanha 2013, em Mairiporã. Portanto, utilizem
o mês de dezembro para recarregar as energias, pois a próxima temporada promete
ser melhor ainda!
Finalizo com a seguinte
frase: “Nós caímos para aprendermos a nos
levantar”
Um abraço a todos!
Nossa Daniel, parabéns mesmo por todas conquistas!
ResponderExcluirAdmiro muito a sua coragem de participar de um circuito tão difícil e técnico como este de corrida de montanha.
Como sempre parabéns pela postagem, excelente em detalhes e percepções da prova.
Um grande abraço e boa recuperação para você!
Daniel só agora tive tempo de vir conferir as suas façanhas nas corridas de montanhas, vc está de parabéns pelo relato e por todas as etapas concluídas vc é fera e com certeza se algum dia eu vier a correr alguma etapa dessas vou vir aqui pegar dicas com vcs...Showwww as 10 etapas medalhas e troféu lindo...vc é o cara.
ResponderExcluirBoa semana e bons treinos,
Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com
Show!!! Parabéns!!! E que venha 2013!!!
ResponderExcluirParabéns Daniel! Adorei conhecer o Circuito de Montanhas relatado por um participante. Bons treinos!!
ResponderExcluirOlá, Daniel! Excelente relato!
ResponderExcluirSão Bento do Sapucaí é justamente o meu próximo desafio (e provavelmente a última prova que correrei esse ano)! Coincidentemente também subi ao pódio 4 vezes nesta Copa Paulista (SAP, Rio Grande da Serra, Campos do Jordão e Cantareira), entre uma lesão e outra! rs
Alguma dica em especial para essa etapa?
Abraço
Gabriel (http://seelacorreeucorro.blogspot.com.br)
Olá Gabriel, tudo bem?
ExcluirObrigado por acompanhar o meu relato, realmente foi um desafio e tanto. Ainda mais quando eu dei um mal jeito nas costas, parecia que havia sido ferido na "guerra" (risos). E não dava tempo para pensar muito nas coisas, o negócio era correr, o resto eu deixei pra depois (uma semana parado).
Dica: tente dosar o ritmo no início, não precisa ir muito devagar, assim você terá boas condições a partir da metade da prova (onde muitos cansam e reduzem a velocidade). A largada é empolgação, todo mundo sai em disparada, tome cuidado, pois em poucos minutos, a maioria já está caminhando (subida tipo "parede" que aparece logo de cara).
Boa prova, depois conte como foi!
Abraço