Olá amigos, a VIII Etapa da
Copa Paulista de Corridas de Montanha ocorreu no último sábado (25/08/12), na
cidade de Piquete/SP (cerca de 200Km da cidade de São Paulo), localizada na
região da Serra da Mantiqueira. O local escolhido para a concentração do evento
foi a Fazenda Santa Lídia, com um grande espaço para acomodar os organizadores
e atletas. O destaque da prova foi o horário da largada, prevista para ocorrer
as 19h00min. Situação inusitada, pois trata-se da única etapa da Copa Paulista
em que o evento ocorre integralmente no período noturno. Com esse cenário,
muitos se perguntam: qual a melhor estratégia para correr uma prova de montanha
à noite?
Primeiramente, o atleta
precisa providenciar alguns objetos indispensáveis para esse tipo de prova,
dentre eles indico a utilização de, no mínimo duas lanternas, sendo uma para ser utilizada acoplada à cabeça e
outra de mão (ou reserva, dependendo do caso). Isso porque se confiarmos
singularmente no objeto, o mesmo pode parar de funcionar e causar um tremendo
problema durante a prova. Outro item que considero essencial são as luvas, pois em determinados momentos, é
necessário utilizar as mãos e num descuido, podemos agarrar alguma vegetação
cortante ou cerca enferrujada. Isso para não falar nas quedas, as luvas acabam
agindo como uma forma de amortecimento, caso viermos a tropeçar e,
inevitavelmente, estatelarmos ao solo. Quanto à opção de roupa, isso é um
critério particular de cada um, pois a medida que o tempo vai passando, se o
atleta estiver correndo num ritmo acelerado, a tendência será o incômodo pelo
excesso de peças no corpo.
O meu deslocamento até
Piquete foi por intermédio do Jorge de Jesus (categoria 45-49 anos), que
conseguiu carona com o Eder Galhardo (categoria 30-34 anos) e sua namorada, que
levou consigo no colo o “Halley” (cãozinho recém-nascido, mas que fica do
tamanho de um “dinossauro” depois de alguns meses – risos). Desse modo, nós
cinco, seguimos para Piquete por volta das 16h00min. Conforme previsto,
chegamos à Fazenda Santa Lídia por volta das 18h00min, ou seja, já com a
ausência de luz natural. O céu estava estrelado, seria sem dúvidas, uma noite
muito agradável para o desafio que estava por vir. Fugindo a regra das etapas
anteriores, a organização não disponibilizou a retirada do kit na sexta-feira,
devendo todos os atletas, sem exceção, efetuar o procedimento no dia do evento.
O kit continha uma camiseta, um número de peito, um chip de cronometragem
retornável, uma canequinha de hidratação, além de bananinha (me fez lembrar
Paraibuna), revista Outside, uma
amostra de achocolatado em pó Suisse,
granola e propagandas dos patrocinadores e parceiros.
Até aquele momento, correr
em Piquete era um ponto de interrogação no escuro (literalmente) para mim, eu
não tinha referência alguma a respeito da prova, ainda mais pelo fato de todo
ano os organizadores alterarem o percurso. Optei por correr com um calção de
compressão (térmico), usei a camiseta correspondente à etapa, um porta garrafa dorsal
acoplado à cintura com isotônico e a indispensável lanterna de cabeça. A
segunda lanterna, que também era de cabeça, consegui fazer uma adaptação e
amarrá-la na cintura, de forma que as minhas mãos ficassem livres. Quantos as
luvas, cometi o deslize de esquecê-las em São Paulo, o jeito foi correr sem
elas. A poucos minutos do início da prova, o locutor cedeu a palavra ao Fábio
Galvão Borges (idealizador do evento) que transmitiu as últimas informações aos
atletas. Uma dessas informações foi referente ao percurso, cuja distância longa
chegaria próximo aos 13Km. Vale lembrar também da disputa na distância curta,
com pouco mais de seis quilômetros.
A largada ocorreu
simultaneamente para as duas modalidades (curto e longo), com os atletas saindo
em disparada em direção à estrada que dá acesso a fazenda. Para evitar
congestionamentos em trilhas ou trechos com fluxo lento, resolvi acelerar no
início, para tentar obter alguma vantagem no final. Uma estratégia muito
infeliz de minha parte! Antes de completar o primeiro quilômetro, da estrada
fomos desviados para um trecho de trilha que, na verdade, revelou-se um morro
ou, em termos radicais, uma verdadeira montanha absurdamente verticalizada.
Aquilo foi um martírio, pois fatigava até para caminhar, por um longo período,
seguiu-se uma fila indiana de “vaga-lumes” pelo silêncio reinante naquela
escarpada e penosa montanha. Outro agravante foi que seguimos em paralelo a uma
cerca de arame farpado enferrujado e com muito “tétano” à espera de alguém
desequilibrar-se. Acredito que foram pelo menos uns vinte minutos subindo,
subindo e subindo, sem qualquer perspectiva de finalização e chegada ao topo. Com
muito ardor, consegui concluir aquele trecho inicial com a triste constatação
de que havia passado apenas um quilômetro, mas com a sensação de ter corrido o
triplo daquilo.
A partir daquele momento,
foi um incansável sobe e desce, ora por trilhas abertas, ora por valas
estreitas e com muitas dificuldades de visualização. O percurso estava todo
demarcado por bandeiras amarradas em barbantes e luzes incandescentes (parecia
pulseiras brilhantes utilizadas em baladas – risos), porém, a principal tarefa
naquela escuridão era manter a concentração e atenção a tudo o que vinha pela
frente. Por vezes a lanterna escorregava na cabeça, em quase todas as ocasiões
devido aos tropeços e viradas bruscas, face algum obstáculo. Num certo momento
quase que a minha prova foi parar nas estrelas (as mesmas daquela noite –
risos), num momento de desequilíbrio, quase torci o pé, entretanto, tive a rara
sorte de ter sido apenas uma pisada em falso, o que me manteve na prova. O
quinto quilômetro se aproximava e até aquele instante havia ocorrido poucas
ultrapassagens. Havia alguns staffs espalhados em determinados pontos, isso
ajudou, pois servia de referência para algum atleta que estivesse com
problemas.
Durante o percurso |
Atingimos um momento em que
os morros deram lugar a espaços abertos, porém, cheio de armadilhas, numa
delas, me fez lembrar o desenho do Pica-Pau, em que o Zeca Urubu arma um fundo
falso e o cobre com grama, tal situação aconteceu comigo ao pisar naquela grama
falsa e levar um baita tombo (nada mais era que uma cratera entranhada naquela
escuridão). Aquilo não me retardou, pelo contrário, o fato me motivou a
levantar e seguir adiante mais motivado, isso vale para a vida (se cair,
levante e siga em frente). A metade da prova havia sido duramente vencida, como
se tratava de um percurso misto, preferi não comemorar e sim manter o foco em
cada trecho iluminado pela lanterna (que por sinal apresentava resultados
excelentes de iluminação). As descidas eram outro problema a ser administrado,
pois era arriscado correr forte, por outro lado, era o melhor momento de distanciar-se
dos demais atletas que estavam no encalço. Joguei às favas qualquer remorso e
corri como nunca, sem pensar nas consequências, felizmente, não me causou
nenhuma avaria na musculatura.
Ao término |
Depois disso, já perto do
sétimo quilômetro, vieram os pequenos trechos com água corrente e um brejo
“básico”, apenas para não levarmos o tênis limpo para casa – risos. Essas
travessias (exagero de minha parte, apenas pequenas passagens com água
corrente), tinham profundidades diversas, por isso, não era possível
estabelecer uma relação entre elas, mais um problema em meio a tantos que os
atletas passavam naquela carência de visualização. Acessamos a fazenda pelo
caminho oposto à largada, havia um desvio no percurso, os atletas do curso
seguiam pela direita para finalizar a prova, enquanto o percurso longo seguia
pelo lado esquerdo em direção ao trecho percorrido na largada. A diferença foi
a ausência do morro (o mesmo que arrebentou todos no início), seguimos pela
estrada de terra batida até uma certa altura, ali avistamos nada menos que o
Fábio Galvão, em meio a uma escuridão, iluminado apenas pelas lanternas da
camionete, fotografando a galera que passava.
Com o troféu (Academia Bodytech) |
Como aquela era a única
estrada, calculei que o retorno seria por ela, novamente fui enganado! Num
determinado ponto houve um desvio para um trecho de trilhas abertas, que mais parecia
um campo minado, nisso eu acertei, pois pisei em falso em diversos momentos. No
entanto, já perto do final, considerei aquilo como “relaxamento” de minha
parte, percebi que o meu nível de concentração havia se esvaído por alguns
minutos, tanto que dois corredores me ultrapassaram. O final da trilha deu
acesso novamente a estrada de terra batida por onde havíamos passado momentos
antes, foi aí que confrontei com várias luzes em minha direção: tornou-se uma
via de duas mãos, tanto para aqueles que ainda iriam iniciar o trecho de
trilha, quanto aqueles (meu caso) estavam próximos de finalizar a prova. Nesse
momento avistei o Felipe Vizioli (o dono do cachorro chamado “Jimmy Cliff”, que
estava em Paraibuna), correndo solitariamente metros a frente. No mesmo
instante conferi a placa de “12Km”, o que significava que o final estava muito
próximo, nisso o meu corpo respondeu a investida de velocidade que imprimi até
a conclusão da prova.
Pódio |
Finalizei os comprovados
12,6Km com o tempo de 1h22min10seg, posteriormente descobri que esse tempo permitiu
a inédita conquista da 1ª colocação na categoria 18-29 anos, compensando todos
os percalços enfrentados naquela noite. Independente do pódio, só o fato de ter
vencido todos aqueles obstáculos, me deixou com um sorriso de “orelha a orelha”
(risos). E o melhor disso, foi que terminei a prova sem nenhum arranhão, ao
contrário de vários atletas que tiveram cortes, machucados e torções. Recebi
mais um pedaço de medalha que, ao final da temporada, formará uma grande
mandala, além de isotônico e frutas (abacaxi, banana e melancia) à vontade e
todos eles cortados. Ganhei um vale “chocolate quente”, o que consumi prontamente.
A premiação foi rápida e objetiva, sem demoras e em pouco tempo subi ao ponto
mais alto do pódio para receber o meu troféu, além de um kit “Bananinha”
(novamente recordei Paraibuna ou será que Piquete também é a terra das
bananinhas? – risos), além das fotos protocolares.
Troféu e medalha |
Posso resumir a prova numa
palavra: RADICAL. Gostei muito do desafio de correr a noite em Piquete, ainda
mais por ter sido a minha estreia na cidade. Aliás, guardarei a imagem de
Piquete como uma cidade “noturna”, pois cheguei para a prova à noite e retornei
a São Paulo com o cenário inalterado (risos). Hoje pela manhã (domingo),
conversando com a minha amiga e corredora Roselaine Galício (45-49 anos), ela
me disse que, ao fazer um passeio ciclístico por Piquete, classificou como
“inacreditável” o morro inicial escalado pelos atletas na noite anterior.
Parabenizo os organizadores por surpreender os atletas com aventuras e desafios
que colocam à prova os nossos limites, medos e nos permite conhecer lugares que
antes julgávamos inalcançáveis. Que o presente artigo sirva de motivação para
aqueles que tem vontade de encarar desafios, pois o que presenciei em Piquete,
foi um verdadeiro paredão, onde fiz várias reflexões sobre os desafios que
enfrento no dia-a-dia e comparado ao que estava acontecendo em Piquete, foi
possível minimizar algumas coisas que considerava como “difíceis” em minha vida
urbana.
Roselaine mostra o morro que subimos na noite anterior (foto:Roselaine) |
A IX Etapa da Copa Paulista
de Corridas de Montanha será realizada na cidade de Atibaia/SP, no dia 30/09/12.
Dessa vez, o grande desafio será subir, pelas trilhas, a famosa “Pedra Grande”.
Então, não percam, pois emoções e desafios não faltarão, ainda mais porque foi
em Atibaia a minha primeira corrida de montanha, em 2008. Até a próxima
pessoal!
Daniel,
ResponderExcluirNunca fiz uma corrida de aventura, achei sua experiência show. A próxima oportunidade que surgir, vou participar.
Muito bom!
Abraço,
Roberto
Parabéns!!! Muito bom o seu relato! :) em breve nos encontraremos em uma prova de montanha. abçs
ResponderExcluirOi, Daniel! parabéns pela prova e pelo pódio! Não sei se correria em provas de montanha! SE no asfalto liso, onde nçao tem nada, eu já tropeço e caio, imagine numa prova destas! Rsrsrs.
ResponderExcluirEstava vendo as fotos e acho que conheço o Jorge a quem vc se referiu nesta postagem. Há muito tempo, tinha uma equipe de Santo André que organizou uma provinha de confraternização em Juquitiba e eu fui participar. Acho que era no ano de 2006 ou 2007 mais ou menos. E ele participou, se não me engano. Ele é de Mogi das Cruzes? É militar?
Até mais! mais uma vez, parabéns pela conquista!