sábado, 31 de março de 2012

[RELATO] Copa Paulista de Corridas de Montanha - 3ª etapa - Paranapiacaba/SP

Olá amigos, tentarei a seguir contar todos os detalhes de como foi a 3ª etapa da Copa Paulista de Corridas de Montanha, que aconteceu na pequena e histórica Vila de Paranapiacaba (distrito do município de Santo André), no dia 24/03/12. Foi também a primeira prova do circuito marcada num sábado à tarde, portanto, tive que alterar algumas rotinas para me adaptar às circunstâncias. No sábado pela manhã, fui até a USP apenas para responder a “lista de presença” da equipe Bodytech, a exemplo das corridas que distribuem pedaços para compor uma mandala, tenho que completar doze sábados seguidos com a equipe para ganhar a camiseta de treino Bodytech.
Paranapiacaba (fonte: Autor)
No ano passado, ocasião da mesma prova, tive dificuldades que quase culminaram em atraso, pois o transporte público naquele dia apresentou diversos imprevistos. Ao sair da Cidade Universitária, optei pelo mesmo transporte que me levou até lá: TREM. Fiz baldeação na estação Presidente Altino e de lá segui até a estação Barra Funda, onde peguei outro trem com destino a Estação Luz. Chegando lá, tive que pegar um trem até a estação Brás, pois de lá partiria outro trem com destino a estação Rio Grande da Serra (ponto final da linha). Como podem perceber, fiz um verdadeiro “tour” pelas vias férreas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, popularmente conhecida como a CPTM. Lembrando os acontecimentos de 2011, tive sérios problemas para chegar à estação Rio Grande da Serra, pois o trem parou repentinamente após o embarque na estação Ribeirão Pires e permaneceu naquela inércia por uns bons vinte minutos. Para minha sorte ou eficiência do transporte, não tive esse contratempo neste ano, cheguei rapidamente ao final da linha.
Paranapiacaba (fonte: Autor)
Já em Rio Grande da Serra, fui até o respectivo ponto de ÔNIBUS, quando deparei com uma situação muito desagradável: um homem aparentando mais de cinquenta anos, visivelmente embriagado, tentando montar num cavalo. Ele tentou de todas as formas que, num ato de total despreparo puxou as rédeas fazendo com que o cavalo caísse sobre ele, numa cena lamentável. O cavalo, assustado, permaneceu no chão se debatendo e dando coices no homem que mal podia se mexer, até que chegaram alguns populares e restabeleceu o cavalo e o homem, que estava desnorteado. Não obstante, o homem insistiu em montar no cavalo, só que dessa vez obteve êxito e assim seguiu por um destino incerto. Ainda no ponto de ônibus, encontrei outros corredores que estavam ali pela mesma razão que eu, em poucos minutos seguimos em direção a Paranapiacaba.
Pórtico de largada (fonte: Autor)
O trecho percorrido de ônibus durou pouco mais de vinte minutos, quando cheguei, por volta das 13h00, já havia uma boa movimentação de corredores. Além dos atletas, havia vários turistas, muitos deles japoneses e a maioria com câmeras fotográficas de grande porte. Não havia muita neblina, o sol raiava timidamente, mas sempre com aquele ar úmido. Não perdi tempo e já iniciei o processo de registro fotográfico – risos. Infelizmente optei por não levar câmera no percurso da prova, pois havia trechos em que as chances de molhar ou danificar a câmera seriam grandes. A primeira coisa que fiz foi procurar um local para me alimentar, algo não muito pesado, pois só havia tomado café e não queria correr de estômago “vazio”. Nesse instante encontrei o meu amigo Jorge de Jesus, experiente nas provas de aventura.
Entrega de kit (fonte: Autor)
Fui até o local da concentração da prova para retirar o kit de participação, nele continha a camiseta oficial do evento (na cor vermelha), a famosa e tradicional “canequinha” de hidratação, granola, revista, número de peito e chip de cronometragem. No mesmo local, percebi que havia o serviço de massagem oferecido pela organização, totalmente gratuito, como não havia fila, não perdi tempo e solicitei o serviço. Após uma massagem relaxante, vi vários atletas com um copo de plástico preso a uma borracha com alça para prender no corpo. Descobri que havia um pessoal vendendo esse copo a bagatela de R$ 6,00, sendo que ao final, caso o copo fosse devolvido, eles restituiriam R$ 2,00 (por ser material reciclável ou coisa assim). Achei a ideia razoável e resolvi experimentar tal novidade, pois aparentava ser melhor do que correr segurando a canequinha (o que acabou sendo uma ótima ideia, mais a frente vocês entenderão).
Copos reutilizáveis: novidade na prova (fonte: Autor)
Bom, depois disso fui procurar um lugar para comer, encontrei uma casa que vendia lanches (não consigo chamar de lanchonete uma casa onde os fundos – quintal – possuem mesas e é servido lanches – risos). Na companhia do meu amigo Jorge, optei por um hambúrguer, pois ainda faltava pouco mais de uma hora e meia para o início da corrida. O lugar estava lotado por crianças de um colégio que estava visitando a vila. Também havia alguns corredores, o que me assustou foi vê-los comendo verdadeiros “pratos completos” de arroz, feijão e tudo mais, pois acredito que não daria tempo de ser realizada uma boa digestão de coisas tão “pesadas”. Enfim, cada um supre suas necessidades da melhor forma que acreditam. Gostei da iniciativa da organização de efetuar duas largadas, sendo a distância menor (9Km) às 14h30min e a prova longa (12Km) prevista para às 15h00, pois assim as trilhas estariam menos congestionadas. Nesse ínterim, o tempo deu uma “virada”, iniciando uma pequena garoa naquele instante. Fui me trocar, pois já passava das 14h00, acabei perdendo a largada da modalidade “curta”, de qualquer forma, estava quase tudo pronto, faltava apenas deixar a mala no guarda-volumes.
Jorge comprando o copo reutilizável (fonte: Autor)
Só para não deixar escapar nenhum detalhe, outro fato curioso marcou aquele dia: o Antonio, grande amigo do Jorge e que tive o prazer de conhecer em provas anteriores (inclusive nos levou de carona a São Sebastião na etapa anterior), estava com compromisso inadiável para aquele dia e estava quase impossibilitado de correr. Até aquela edição ele havia participado de TODAS as corridas de montanha em Paranapiacaba e para não ficar de fora encontrou uma forma inusitada de participar: sozinho, fez a largada às 12h00 e seguiu por todo o percurso, uma atitude digna de reconhecimento e elogios. Para não passar despercebido, o Jorge relatou essa história ao locutor do evento, que tratou de levar ao conhecimento de todos. Agora vamos à corrida propriamente dita!
Olha eu aí
Prevista para iniciar às 15h00, o locutor apresentou algumas novidades no percurso em relação ao ano passado (não prestei atenção, portanto, tive que descobrir correndo). Minutos antes de começar, notei a falta das minhas luvas, lembro que foi muito útil no ano passado, pois passei por trechos em que as luvas protegiam de um contato com determinados pontos em que havia espinhos ou obstáculos cortantes. Não tinha jeito, se saísse para pegá-las, certamente perderia a largada. Eu estava com uma verdadeira “interrogação” nos pensamentos, pois não sabia como proceder no início, ou largava forte para ter vantagem e menos tráfego na trilha (com o risco de cansar logo no início) ou largaria com menos intensidade e estaria “inteiro” quando entrasse na mata fechada. Segui a primeira opção, e acabei me dando bem, pois quando passados dois quilômetros de prova, entramos na primeira trilha, onde pude fazer o trecho no meu ritmo, sem ser atrapalhado. Logo de cara percebi que teria que ter cuidado redobrado, pois a trilha estava muito escorregadia, muito “barrenta” e também “traiçoeira”, pois havia o risco do tênis ficar preso em alguns locais, onde o nível de lama era alto.
Lama,  muita lama...
Vencido os primeiros obstáculos, mal sabia que os momentos mais difíceis ainda estavam por vir, eis que iniciamos o trecho no lago, onde a água batia na cintura, porém, ao me recordar do ano passado, sabia que a distância era de aproximadamente entre cinquenta e setenta metros. Nada disso, esse trecho foi uma das mudanças feita pela organização (que eu não havia prestado atenção), ou seja, haviam acrescido pelo menos mais trezentos metros de lago a ser percorrido. Nesse momento, encontrarmos algumas mulheres da distância de 9Km, gentilmente elas nos deixaram passar, e seguimos adiante. Quando participo de provas de montanha, corro com o seguinte pensamento: “Se a cada passo que a pessoa der, tiver medo de cair, cairá”, seguindo essa premissa, eu enfrentava os obstáculos sem pensar muito, assim desbravava tudo que vinha pela frente, porém, numa dessas, ainda na água, topei com a canela numa pedra, que me fez sentir dores por um bom tempo. Mantive a confiança e segui em frente, e nada do lago terminar, foi quando vi vários corredores passando por cima de um tronco de árvore atravessado no caminho, optei pelo caminho de “português”, fui por cima, ao apoiar, levei um baita escorregão caindo de costas na água, só me recordo de pessoas rindo dessa cena.
Cena comum na prova
Finalmente o lago terminou, iniciei a subida por uma pequena cachoeira, nesse momento senti falta da luva para apoiar nas pedras, estava vencendo os obstáculos utilizando os quatro apoios (pernas e braços), percebi a lentidão ou mesmo precaução de alguns corredores naquele momento, daí resolvi usar outro caminho e forçosamente acabei ganhando posições. Nisso surgiu o primeiro posto de água, no topo de uma subida bem íngreme, foi aí que fiz uso do copo preso ao corpo, até ali funcionou muito bem, mas o ato de encher dois copos foi o suficiente para ser ultrapassado por uns dois corredores. Nesse meio tempo, encontrei vários motoqueiros que estavam fazendo cross naquelas trilhas (se até para motoqueiro é difícil, imagine para nós?!), sem contar que dali para frente não encontrei mais solo seco, todos estavam com muita lama e escorregadios. Iniciou-se um sobe e desce pelas trilhas, mais abertas, porém, pouco acessíveis, com valas extremamente lisas e propensas a derrubar quem tivesse a menor desatenção. Por um bom tempo “puxei” a trilha, pois não via ninguém a frente e vários corredores estavam próximos na retaguarda.
Após a prova (fonte: Autor)
A temperatura estava ótima, até ali eu não sentia dores musculares, percebi a importância do fortalecimento muscular, pois o impacto nas descidas era muito grande e o meu corpo respondia muito bem àquelas investidas. Passados dez quilômetros, entrei numa estrada que misturava terra, pedras e cascalho, segui num ritmo bom, até sentir uma pequena dor no quadril, no lado direito, diminui o ritmo, para minha sorte, fui ultrapassado por apenas um corredor, nada que afetasse negativamente o meu resultado. Entrei na cidade para o encerramento da prova quando passei pela placa indicativa de “12KM”, estranhei, pois vim a descobrir que a prova tinha pelo menos trezentos metros a mais do até então divulgado. Finalizei a prova com o tempo de 1h21min, ficando na 44ª posição geral e na 9ª colocação na “gigantesca” faixa 18-29 anos. Ainda sob efeito daquela adrenalina toda, nem havia percebido os vários arranhões, alguns pequenos cortes nos braços e pernas, além de estar muito sujo de barro, mas com a sensação de ter feito uma prova quase perfeita (afinal, perfeição não existe, não é mesmo? – risos).
Vivi e eu (fonte: Autor)
Jorge e eu (fonte: Autor)
Como recompensa, recebi uma bela medalha, que faz parte da mandala a ser completada, frutas (mexerica, banana e melancia), água e isotônico a vontade e fui descansar um pouco. Num pequeno descuido, esqueci o copo de hidratação num lugar qualquer e quando dei conta, retornei e o mesmo não estava mais lá (paciência, os mais ingênuos dirão “Cochilou o cachimbo caiu” ou “Achado não é roubado!”). Mas isso não tirou o meu bom humor, ainda encontrei a Malú, pessoa muito simpática e que está sempre nas corridas de montanha, tiramos algumas fotos para guardarmos de recordação. O legal de tudo isso foi também ver a minha amiga Vivian Pavão que estava entusiasmada, com a adrenalina a mil e muito feliz pelo resultado. É claro que registramos esse momento com uma bela fotografia! Fui até o banheiro público me trocar, a dificuldade em tirar o tênis foi enorme, ele estava “cimentado” em meus pés, como é um tênis para trilhas (SALOMON), não possui cadarços, tive que fazer uma força sobrenatural para conseguir desvencilhá-los dos meus pés. As meias estavam irreconhecíveis, joguei-as no lixo no mesmo instante, porém, a foto a seguir é uma saudosa recordação – risos.
Pés com e sem meia (fonte: Autor)
Situação da roupa após a prova (fonte: Autor)
Retornei pelo mesmo caminho, até a pista, onde pegaria o ônibus até Rio Grande da Serra e de lá o trem com destino a Pirituba. Tive a companhia da Malú, onde fomos conversando e dando boas risadas sobre as mais variadas provas que participamos. Para finalizar, parabenizo a organização pelo espaço de massagem, pela boa sinalização do percurso e também pela equipe de fiscais de prova que estavam nos principais pontos das trilhas. Não tenho reclamações, apenas reitero a questão da faixa etária, pois deveriam retornar a tradicional e convencional contagem de quatro em quatro anos (25-29 anos, por exemplo), pois do jeito que está, continua sendo desigual para uma parcela dos inscritos. Foi claramente uma prova com um grau de dificuldade superior ao do ano passado, não apenas pelo trecho do lago, mas também pelas trilhas extremamente escorregadias.
Medalha (fonte: Autor)
Vídeo oficial da prova:

A próxima etapa paulista será em Campos do Jordão, dia 29/04/12, já estou inscrito, porém, antes disso ainda tenho outros compromissos, entre eles o desafio de correr na Meia Maratona dos Glaciares (Media Maratón Del Glaciar), na Argentina, no próximo dia 14/04/12. Espero que tenham gostado do relato, quem quiser enviar mensagens para mim, é só escrever para: danielrunning@live.com. Terei o maior prazer de responder a todos os emails. Um abraço e até a próxima! 

Um comentário:

  1. Dannn, q legal esse vídeo, por ele podemos perceber que a prova, foi barrenta mesmo!!! Parabéns por mais essa medalha e como dizem: "vão-se as meias mais ficam os pés!" Q. vc perca muitas meias pelo caminho, mas nunca deixe de fazer o q vc mais gosta!!E, vamos aguardar o próximo, Patagônia....eba!!!! bj

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