sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

[RELATO] 87ª SÃO SILVESTRE

Encerrando um ano difícil

Olá amigos, encerrar o ano esportivo correndo na São Silvestre teve vários significados para mim. Um deles foi o fato de eu ter colocado fim a um período de quatro meses sem correr ao ar livre, tudo por conta de uma contusão no tendão da perna direita, o que me obrigou a fazer exercícios de fortalecimento na academia. Não posso dizer que voltei 100%, dores musculares foram inevitáveis no decorrer da prova, porém, nada que me lembrasse a contusão que me afastou. Pode soar até como ironia, mas eu me machuquei devido ao excesso de treinos em subidas e descidas. Outro motivo que me fez comemorar foi o fato de ter sido a minha 9ª participação na prova, levando em consideração a minha idade (27 anos), me deixa muito contente saber que já estive em tantas edições da São Silvestre.

De histórica, a São Silvestre tem vivido nos últimos anos cercada de muitas polêmicas, quase todas relacionadas à logística da prova. Seja por conta do valor da inscrição, seja pela medalha ter sido entregue na retirada do kit de participação ou até mesmo na qualidade da camiseta. Na edição 2011, a organização do evento apresentou mudanças no percurso e alterou o local da chegada. Pude acompanhar em vários blogs a reprovação de tais alterações. Ao contrário de muitas pessoas (não sei se muitas, pois a 87ª São teve recorde de inscritos), vi com bons olhos as mudanças, só faltava mesmo conferir “correndo”.

Realizei a minha inscrição com certa antecedência, lá pelos idos de outubro, portanto, tinha uma meta traçada: recompor-me fisicamente a ponto de conseguir participar da festa. Os meses de setembro, outubro e novembro foram bem difíceis, eu estava tentando fazer Deep Running, mas a dor teimava em não diminuir, trazendo um desânimo enorme, não consegui acompanhar uma sequencia de treinos na piscina, situação que eu precisava solucionar o mais rápido possível. Foi aí que permaneci por exatas três semanas sem fazer absolutamente nada! Minha amiga Alexsandra classificou isso de “estafa”, situação em que a pessoa interrompe tudo o que faz mesmo sabendo que gosta daquilo, seria uma espécie de enjôo momentâneo.

O “recesso” das atividades aquáticas me fez tomar a decisão de ingressar na musculação, na própria academia Olímpia, a fim de iniciar um trabalho de fortalecimento muscular, já que a dor permitia esse tipo de esforço. Junto com o “pacotão”, ainda pude ingressar em outras duas modalidades: natação e boxe. Para quem não sabe, o Deep Running é uma modalidade em que você trabalha o corpo com a cabeça fora da água, ou seja, ereto e com um colete flutuante que faz com que a pessoa não tenha contato com o solo e assim possa desempenhar as atividades sem qualquer tipo de impacto. Por isso que me agradou a idéia de fazer natação, pois eu estaria aprendendo a nadar e ao mesmo tempo trabalhar o corpo inteiro. Já o boxe seria algo totalmente novo em minha vida, nunca imaginei colocar uma luva e bater num saco de pancadas. Mas obviamente que essa modalidade não consiste apenas nisso, ao contrário, a pessoa executa diversos exercícios que trabalha força, agilidade, reflexo e toda a parte de fortalecimento muscular.

Não quero perder o foco do texto, que é a São Silvestre, mas acredito ser essencial que os amigos leitores entendam como cheguei até essa corrida propriamente dita. Iniciei os trabalhos efetivamente no dia 21/11/11, justamente no período em que iniciei férias do trabalho por quinze dias, ou seja, teria um tempo de adaptação melhor aliado ao descanso após os treinos. A academia Olímpia (que muito em breve se chamará BODYTECH) possui ótimos aparelhos para trabalhar todas as partes do corpo. Inicialmente, a professora Marisa Barbin montou um treino voltado à adaptação às minhas novas rotinas, conciliando com as aulas de deep running e natação. Iniciei também as aulas de boxe, confesso que fiquei “moído” nas duas primeiras aulas, cheguei a freqüentar uma terceira, mas infelizmente não tenho conseguido encaixá-las nos meus treinos semanais (mudarei esse panorama em 2012).

Após um mês fazendo fortalecimento muscular, senti a diferença (positiva) e a confiança voltou a ocupar os meus dias. Estava há pouco mais de nove dias para a Corrida de São Silvestre e, apesar de não ter treinado em asfalto, estava contente pela estrutura muscular estar cada vez mais fortalecida. Da natação só tenho alegrias, lembro que na primeira semana engoli tanta água que pensei que fosse virar uma alga marinha (risos). Mas com a paciência dos instrutores Rodrigo, Gabriela e Carolina, um mês após iniciar as aulas, já consigo me virar razoavelmente bem dentro d’água e muito se deve ao meu comprometimento em não faltar às aulas e as técnicas transmitidas pelos profissionais da academia. Outra novidade surgiu nesse período: pasmem, iniciei aulas de Yoga, no Estúdio Yoga Flow, indicado pela minha amiga fisioterapeuta Alexsandra Winkler (a mesma já citada nesse texto). Cheguei a fazer duas aulas com a professora Sandra Zanfra, gostei e muito, porém, entrou no mesmo caminho das aulas de boxe, ou seja, fiquei com os horários “apertados” e é outro “problema” que terei que tentar incluir na minha grade de horários em 2012.

São Silvestre 2011


A retirada do kit de participação estava prevista para os dias 28, 29 e 30 de dezembro, semana do meu aniversário de 27 anos (28/12). Como todo brasileiro (ou pelo menos a maioria) fui buscar o meu kit no último dia e no período da tarde, peguei uma enorme fila para acessar o Ginásio Estadual Geraldo José de Almeida. Por um momento esqueci que a prova abrigaria 25 mil pessoas, por isso relevei os mais de 20 minutos para ser atendido. Nesse ínterim conheci um corredor daqui de São Paulo que ia para a 3ª participação na São Silvestre, ele devia ter o dobro da minha idade, contou algumas histórias, dentre elas a famosa época em que a São Silvestre largava após das 23h00, realmente isso é história do século passado, pois a última edição em que teve a largada perto da virada foi em 1988, porém, essa e outras histórias contribuíram para o tempo passar mais rapidamente.

Nada de novo no kit, melhor dizendo, o mesmo de sempre: camiseta, número de peito, chip descartável, um squeeze, o famoso “Café da YESCOM” (Três Corações), algumas propagandas promocionais e uma revista (que não gostei muito). Testei o meu chip (em que os meus dados são visualizados numa televisão), passei “obrigatoriamente” pela feira de esportes (razoável, mas nem se compara com as européias), dessa vez não quis tirar a foto oficial do evento e retornei rapidamente para casa. Nesse dia, já havia feito Deep Running pela manhã na academia, por isso não via a hora de almoçar.


O sábado amanheceu fechado, o dia realmente prometia chuvas, conforme a previsão meteorológica. A largada estava prevista para às 17h30 (diferentemente da edição 2010, onde curiosamente a largada ocorreu exatamente às 16h47 – risos). A melhor solução para acessar a Avenida Paulista foi por intermédio do metrô, a Estação Paulista realmente facilitou a vida de muita gente. Optei por descer nessa estação, cujo acesso seria pela Rua da Consolação, bem próximo ao final da Avenida Paulista, enquanto a maioria (eu diria que TODOS) os corredores optaram por desembarcar na Estação Brigadeiro. Lembrando que a Rua da Consolação foi para o "banco de reservas" nessa edição, dando lugar às Ruas Dr. Arnaldo, Major Natanael, Capivari, Itápolis desembocando na Praça Charles Miller.

Vejam o vídeo do novo percurso (antes da prova):

Cheguei por volta das 16h30, o clima estava agradável (calor, mas não excessivo), o guarda-volumes estava posicionado na própria Avenida Paulista, próximo ao prédio da TV GAZETA, novamente os famosos caminhões dos CORREIOS, estava muito tranquilo (confesso que estranhei tamanha calmaria). Encontrei alguns conhecidos, dentre eles o meu grande amigo velho de guerra Zolli, do bairro do Jaraguá, na altura dos seus mais de 65 anos encarando mais uma São Silvestre, entre outras pessoas. Faltavam pouco menos de vinte minutos para o início da corrida quando começou a chover, nos primeiros quinze minutos a chuva refrescou o calor, mas depois começou a incomodar, pois todos ali parados, aguardando o início da prova, realmente não era a melhor situação. De qualquer forma, muitas novidades estavam por vir, e os mais de 25 mil corredores estavam dispostos a encarar. Optei por largar quase ao final do pelotão C (o último), sem empurra-empurra ou aglomeração desnecessária.

A largada ocorreu pontualmente no horário, mas para mim em ritmo de caminhada, levei nada menos que 22 minutos para cruzar o tapete oficial de cronometragem. Mas como tudo ali era festa e marcou o meu retorno às corridas, pouco me importei. Havia várias pessoas fantasiadas, que ia desde o cover do Pelé, até gente encarnando Jesus Cristo e correndo ostentando uma cruz, além do Chaves, Chiquinha, Asterix, Garçom, Homem-Aranha e por aí vai. A chuva já havia se intensificado, a novidade do percurso até ali me agradou e muito, foi quando entrei na Rua Major Natanael e Rua Capivari que despencou um verdadeiro temporal, realmente foi para “lavar a alma”, a adrenalina subiu e a galera toda curtiu muito aquele momento. É evidente que o cuidado devia ser redobrado, para evitar possíveis escorregadas que resultariam em quedas, o que eu soube administrar bem e evitar qualquer imprevisto. Quando entrei na Avenida Pacaembu, uma sensação de bem-estar me fez esquecer por completo o Elevado Costa e Silva (popularmente conhecido como Minhocão) trecho da prova que também foi para o “banco de reservas”, sendo preterido nessa edição.

Terminando a Avenida Pacaembu, voltamos ao percurso tradicional, dali para frente foram trechos bem conhecidos da galera. Os postos de hidratação funcionaram (pelo menos para mim) corretamente, não fiquei sem água em nenhum momento, levo isso em consideração, pois larguei muito atrás. Tudo isso que estou descrevendo, que o leitor compreenda que era sob forte chuva, achei legal que em nenhum momento o meu fone de ouvidos deu problema. Não posso deixar de lembrar que eu corri ao som de GUNS N’ ROSES, músicas do show realizado em Los Angeles, no dia 21/12/11. Na metade da prova foram servidos  isotônicos em saches, optei por não pegar, o trecho ali ficou bem escorregadio, com os saches espalhados pelo chão. A chuva atrapalhou as fotografias, pois não vi fotógrafos num dos meus trechos preferidos, o Viaduto do Chá, realmente a chuva não dava trégua. Até ali corri praticamente com centenas de pessoas ao meu redor, em nenhum momento corri “sozinho”, pessoas do Brasil inteiro reunidos naquele percurso, com um único objetivo: concluir a prova que esperaram um ano inteiro!

O grande momento da prova deu inicio quando acessamos o Largo São Francisco em direção à Avenida Brigadeiro Luis Antonio, pela primeira vez não viraríamos à direita ao chegar à Avenida Paulista. Iniciei a subida num ritmo progressivo, objetivei percorrer aquele trecho o mais rápido possível, evitando maiores desgastes. A minha musculatura respondia muito bem, sentia poucas dores, mas nada relacionado à contusão e sim às dores de quem está sem “ritmo de jogo”. Quando cruzei a Avenida Paulista, veio aquela sensação nostálgica de término de prova, mas foi apenas uma rápida lembrança, ainda havia quilômetros pela frente. A descida da Avenida Brigadeiro foi em ritmo de festa, recebíamos vários incentivos dos corredores que já haviam concluído a prova. A chuva realmente foi um personagem de grande destaque na prova, pois ali estava intensa, queria dar mostras de que era um obstáculo, mas ao mesmo tempo estava “correndo” junto com todos.


Ao acessar a Avenida Pedro Álvares Cabral (último trecho) encontrei a minha amiga Nadia Ivana, nos cumprimentamos e seguimos, em ritmos diferentes, até o final: “Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32”, onde cruzei a linha de chegada com o tempo oficial de 1h53min (tempo bruto), sendo que o tempo líquido foi de 1h31min. O tempo estava fechado, a noite começava a surgir acompanhada de uma chuva amena (havia diminuído bastante). A retirada da medalha (mediante troca do destacável do número de peito) foi num gramado a cerca de 500m de distância, porém, com a chuva, aquele gramado havia se tornado um verdadeiro lamaçal. Destaque para a medalha, muito bem trabalhada, de uma qualidade acima de média em relação a outras edições. Ainda recebemos um kit pós-prova com barrinha de cereal, torrone, mini-pão de mel e um gatorade fechado. Não perdi tempo e, em meio ao trânsito ali instalado, entrei no primeiro ônibus que vi em direção ao metrô. Estava totalmente encharcado, porém, não queria continuar tomando chuva.


Opinião sobre a prova: gostei muito do percurso, foram mudanças que trouxeram uma nova dinâmica para a prova. Agregaram a Avenida Pacaembu e o Ibirapuera, que é o símbolo dos corredores de São Paulo. A Avenida Paulista continua com todo o seu charme, pois é local que dá início a todo esse tour pela cidade, é um símbolo histórico, uma espécie de “marco zero” para os corredores. Cada um tem o direito de opinar, podendo concordar ou discordar, ir ou não ir à prova como forma de protesto pela alteração do percurso. De tudo isso, respeito e muito as opiniões que foram emitidas em blogs e em outros veículos de comunicação, porém, vieram críticas de alguns corredores sem antes ter conferido o trajeto (oficialmente dentro da prova). Gostei da postura da organização em “blindar” os corredores colocando o ponto final da prova no Ibirapuera, pois são 25 mil atletas contra 2,5 milhões de pessoas que estarão na Avenida Paulista para a Festa de Réveillon. Entendo que são eventos importantes para a cidade, a festa da virada é um evento que movimenta o turismo, é uma fonte de captação de recursos financeiros para os cofres da prefeitura (que eu imagino que serão bem gastos em prol da população), por isso, a intenção é válida e penso que ter a chegada da corrida no Ibirapuera não é demérito algum, ao contrário, é um cartão-postal de grande relevância para os esportistas da cidade. Nós não perdemos nada, ao contrário, ganhamos o Ibirapuera no percurso, e não dizem que brasileiro é “apaixonado" por futebol? Pois bem, ganhamos também o Estádio do Pacaembu (risos). Acho um exagero criarem camisetas de protesto, fazerem tanto barulho por conta de determinadas mudanças, deixar de participar de um evento festivo em que o orgulho ou a vaidade “fale mais alto”, no final das contas, com ou sem protesto, tivemos 25 mil corredores debaixo de chuva (sem contar os famosos pipocas – corredores excedentes não-inscritos oficialmente). Achei engraçado os títulos alternativos que algumas pessoas batizaram a corrida: “Chuva de São Silveste” ou “Caminhada de São Silvestre”, pois havia um mar de atletas e em vários momentos, devido a questões de mobilidade urbana, havia afunilamentos, em que acabávamos por caminhar. A Yescom não é a melhor das organizações, deixa muito a desejar em alguns aspectos, mas corre quem quer e, eu quis e adorei ter estado lá, é algo que terei boas recordações. Completei a minha 9ª São Silvestre, muito feliz, satisfeito, molhado, sem dores e com a sensação de dever cumprido. Mas 2012 chegou, um novo ciclo se inicia e agora é olhar para a frente (e correr também!)
UM FELIZ 2012 À TODOS NÓS
DANIEL GONÇALVES

4 comentários:

  1. É Dan, por td o que vc passou nesses últimos meses do ano, terminar esse ciclo (ano) com entusiasmo é um privilégio, Parabéns por mais essa vitória em sua maratona de vida!!!!!
    Começar o ano com vontade e esperança de maiores vôos, melhor ainda!!! Certeza que será campeão na vida!!! Bjs

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  2. Como sempre um excelente relato.. Escreve muito bem!!!
    Eu tbém gostei muito do novo percurso.. não tenho do que reclamar (com exceção daquela lamaceira no final)..rs
    Mas valeu.. São Silvestre é a prova para fecharmos o ciclo... sem dúvida!

    bjs e felic 2012! (sem lesões :)

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  3. Daniel,
    Um belo relato! Quanto às mudanças, cada um tem sua opinião mesmo. Que bom que vivemos em uma democracia... só fico na dúvida em relação à arrecadação do município com a festa da virada. Como os hotéis da cidade ficam vazios, acredito que a festa seja mais para os paulistas mesmo. Em mesmo sou de fora de SP e não conheço ninguém que tenha manifestado interesse de ir a SP passar a noite do reveillon. Nesse ponto, acredito que a São Silvestre, embora muito menor, traga mais receita de fora.
    abraço,
    Sergio
    corredorfeliz.blogspot.com

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  4. Parabéns pelo relato!! Concordo na maioria das coisas, só acho que no final deveriam disponibilizar ônibus gratuito fazendo um circular até alguma estação próxima de metro, e tirar a galera da lama. SS é sinônimo de chuva quase sempre ;) Abs. Diego Ronan www.diegoronan.com.br

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