domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aventura na Patagônia - parte 3 (FINAL)

Sábado, 14 de novembro de 2009, uma data que certamente será inesquecível para todas aquelas pessoas que lá estiveram nos seus 42Km pelas montanhas patagônicas! Acordei cedo, por volta das 06h00, e fugindo um pouco das minhas características, tomei um farto café da manhã, sem miséria, comi tudo que apareceu na frente, torradas, frutas, chocolate quente (especialidade do local, não deixem de experimentar quando forem para lá) e tudo mais...pois a maratona iniciaria as 10h00 então daria tempo para fazer digestão. Em seguida fui procurar alguma padaria para comprar isotônicos, pois acabei esquecendo de fazer isso no dia anterior, quase que eu não encontro, pois como é costume do lugar, o comércio só abre a partir das 10h00. Comprei aquele POWERADE, confesso que é muito mais gostoso que os isotônicos que temos por aqui. Estava muito frio, eu diria que uns 5 ou 6ºC, então resolvi colocar tudo na mochila e deixar para me trocar próximo do horário da largada. Uma van fez o translado até o local da maratona, apenas com um erro de cálculo: chegamos CEDO DEMAIS! Fomos praticamente os primeiros a chegar, ficamos mais de duas horas naquele frio. A preocupação era tanta de não chegarmos atrasados, que fez com que experimentássemos o clima da corrida bem antes da hora. Os corredores iam chegando aos poucos, os pórticos iam sendo montados, um relógio em contagem regressiva foi colocado para esquentar ainda mais os ânimos, o palco estava quase pronto para o início do grande desafio. Fiz o check-up, estava com um shorts tradicional, com a camiseta sinalizadora do evento na cor azul (o uso era obrigatório), um tênis para corridas de rua (resolvi aposentar o meu Nike com chave de ouro), usei também luvas, pois já havia experimentado corridas de aventura e em certos momentos utilizamos as mãos para ultrapassar algum obstáculo e nada melhor que estar com esses acessórios, um boné, uma bolsa de uso na cintura para duas garrafas de isotônico e também para guardar o gel, além de uma Camelbak com capacidade de 3L, realmente me sentida devidamente preparado e equipado para encarar essa temida K42! Os corredores estavam equipados tão quanto eu, alguns utilizava até aquelas ''bengalas" que se usam na neve (depois fui descobrir que alguns desses corredores eram canadenses, daí eu compreendo o excesso de zelo, pois o Canadá tem muitas nevadas). Havia pessoas do mundo inteiro, cada qual com suas características e rituais pré-prova. Vale lembrar que ocorreria também a prova de 15Km, onde teve muitos adeptos, esses corriam com a camiseta sinalizadora na cor branca. E também os corredores "especiais", esses corriam com a camiseta dourada, por terem participado de todas as 6 edições da K42. Outro acessório "inédito" em meus 9 anos de corridas foi portar a câmera fotográfica, pois eu não queria perder absolutamente nada dessa extraordinária aventura. Essa câmera tem história, mais para frente eu contarei a vocês. LARGADA pontualmente as 10h00, a aventura começa e aquele mar "azul" saindo em busca da superação de seus limites! Fiz a maratona em clima festivo, fotografando praticamente em todo o percurso, fiquei contente com a hospitalidade das pessoas, sempre que via um grupo apoiando, pedia que tirasse uma fotografia minha e não hesitavam e fazer. Teve um momento que pedi que tirasse uma foto minha e o cara saiu correndo com a câmera, pensei na hora que havia sido furtado, mas ele correu a frente para poder me fotografar num melhor ângulo. Passamos por estradas de terra, cascalho, trilhas fechadas e abertas, trechos da rodovia, lama, riachos e muitos outros tipos de solo. Quando avançamos ao famoso riacho, havia a opção de ir pelos troncos de grandes árvores, porém, estava com a adrenalina a mil, passei pelo riacho, a água à altura dos joelhos, nossa...aquilo realmente estava congelando, ainda parei para ser fotografado, porém ainda estávamos no Km12, ou seja, mais um agravante dali em diante: correr com os pés encharcados até o final. Mas o corpo estava reagindo bem, não estava cansado, corria sempre com uma boa ''reserva'', não estava preocupado em performance, apenas em desfrutar daquele ambiente único. Havia momentos em que você corria em fila indiana, pois não tinha maneiras de ultrapassar, pelas limitações do percurso, em nenhum momento você fica isolado, e recebe incentivos para jamais desistir, muito bacana essa integração, não importa a nacionalidade, o idioma que você fala, a linguagem da prova é regulada pela cor "azul", está de "azul" pertence ao mesmo time, ao mesmo grupo, à mesma família. Apesar de todas as peculiaridades do percurso, já passávamos da meia maratona e nada de NEVE! Me perguntava se realmente teria a chance de conseguir correr nessa superfície, e quando entramos nos Km28 a coisa começou a ficar mais "séria", subidas cada vez mais íngremes e longas tomavam nossas atenções. E num dado momento, passamos a percorrer num solo de terra preta, e começamos a perceber resquícios de neve pelo caminho. Entramos definitivamente numa estrada de terra preta e a neve resolveu aparecer, por todos os lados, margeava o nosso caminho, e em certos momentos se tornava obstáculos. Lembram da câmera fotográfica? Pois bem, teve um momento que eu escorreguei num barranco e "enterrei'' a câmera no gelo e terra, na hora pensei que havia danificado e perdido todas os meus registros, ainda bem nada havia acontecido a não ser ter ficado bem suja (risos). O Km30 era um divisor de águas, ficava no topo de uma das montanhas, onde era localizado o centro de esquis, na temporada de inverno, e também onde pude ver várias pessoas sentadas descansando um pouco, trocando meias, tênis e outras caminhando. Dali em diante faltavam apenas 12Km, totalmente em descidas. Chegar até ali já era uma vitória, parcial, porém o verdadeiro desafio era sair dali, e foi aí que iniciei o trajeto final. Eu já estava dando mostras de cansaço, senti aquela dor no baço, e enquanto muita gente me ultrapassava na descida, eu procurava me livrar dessa incômoda dor que me acompanhou por uns 3Km. Depois disso segui correndo normalmente, cheguei a ultrapassar vários corredores, inclusive um argentino que estava no mesmo hotel que eu, passei dois canadenses (aqueles que estavam com as bengalas para neve). A chegada foi triunfal, no último quilômetro eu estava detonado, realmente muito cansado, o ímpeto de concluir essa jornada é que me empurrava, durante mais da metade da maratona não tive cansaço, não sei o motivo de uma fadiga tão grande ter ocorrido no finalzinho, mas isso não foi o suficiente para me impedir de concluir o que foi, sem dúvidas, o desafio mais difícil que fiz até hoje em minha vida. Recebi a medalha, tomei isotônico, tomei sopa, ainda fui receber a camiseta de finisher e tirar muitas fotos. O meu tempo final foi de 5h12min39seg, fiquei em 259º, de um total de 1200 concluintes. Após a maratona, fui para o hotel, tomei um banho, e fui com o pessoal comemorar num almoço do outro lado da avenida. Um ponto curioso é que já era por volta das 17h00 e ainda havia gente cruzando a linha de chegada. Acabei não indo na festa à noite, pois entrei numa loja que estava sendo exbidas as fotos da maratona e fiquei entretido, quando saí da loja os meus amigos já estavam retornando da festa (risos). No dia seguinte, ainda com as pernas doloridas, fiz um passeio de barco pela costa patagônica, muito relaxante, afinal ainda sentia "ecos" do dia anterior. E na segunda-feira retornamos ao Brasil, com a missão cumprida e com muitas histórias para contar. Para aqueles que leram o que relatei aqui, recomendo essa magnífica maratona, onde você supera os limites, vence obstáculos, passa a se conhecer melhor, onde o cansaço torna-se um detalhe em segundo plano. Experiência de vida.

Antes de começar a Maratona K42


Km 12 (o famoso riacho)


Essa estrada de terra...longaaaa


Km 28


Km 30


A situação do meu tênis...

2 comentários:

  1. Parabéns Daniel!
    Grande Aventura essa!
    Mike
    http://runners.blogs.sapo.pt

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  2. Fantástico relato! Fantásticas fotos! Adorei!
    Agora está chegando a minha vez, rsrsrsrsrs
    abração
    Marcelo Jacoto

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