segunda-feira, 6 de abril de 2015

Aventura em Cunha/SP


Olá pessoal, com toda empolgação, divido com vocês a aventura de ter passado o final de semana com uma galera pra lá de agitada, durante a viagem à pequena cidade de Cunha/SP, situada no interior paulista. Isso porque uma viagem que duraria aproximadamente três horas, levou nada menos que dez horas! Isso mesmo, não escrevi errado, grande parte da saga aconteceu na estrada. Confesso que sempre gostei de uma boa história, e a que contarei agora certamente foi uma das melhores que passei nos últimos anos. É claro que quando as coisas ficam meio nebulosas, abortar a missão não significa dar um passo atrás, mas sim garantir a segurança de todos, porém, a insistência mostrou-se positiva no final das contas.

O meu primeiro desafio naquele sábado, véspera da 1ª etapa da inédita Copa Brasil de Corrida de Montanha, que aconteceria no dia 15/03/15, na cidade de Cunha/SP, foi chegar até o bairro da Penha, localizada na zona leste de São Paulo. Moro no outro extremo, na zona oeste e no sábado pela manhã, estava na zona sul (saindo do trabalho), ou seja, teria que dar um giro de quase 360ºC para iniciar a verdadeira viagem (considerando o fato de ter que retornar à minha residência para pegar a mochila com as minhas vestimentas e objetos pessoais). Me encontrei com a Malú, amiga de longa data e outros dois amigos dela, que eu não conhecia até então: a Maristela e o João. A empatia foi imediata, pessoas bem-humoradas e em sintonia com o meu propósito esportivo.

Em seguida partimos para o nosso destino, lembro que uma fina garoa cobria a cidade. Por alto, sei que Cunha fica logo após as cidades de Aparecida/SP e Pindamonhangaba/SP, mas daí a saber ensinar caminhos e rodovias para seguir, já é uma outra história. Sempre viajei na qualidade de “turista despreocupado”, ora em ônibus regular, ora em caronas com amigos. O João, que por sinal conhecia BEM o caminho, fez as vezes de orientador, o que deixou a todos bastante tranquilos. Em certo momento da viagem, não resisti ao cansaço por ter trabalhado na noite anterior e tirei um cochilo. Quando recobrei os sentidos, vi que todos, exceto a Malú (condutora), estavam “pescando”. Foi aí que começaram os problemas! (risos).

Descobri uma coisa interessante, a praia é sempre uma boa referência para nos situarmos em determinados momentos. Contemplava aquela bela praia, que não sei o nome, a partir do meu lado esquerdo, sem imaginar o equívoco que estava se desenhando. Logo o João notou algo diferente e prontamente percebeu que estávamos seguindo por um caminho totalmente errado, já que o “certo”, em muitos casos, é que a praia sempre esteja à nossa direita. Ou seja, havíamos desviado da rota principal! Nada de pânico, pois a tarde ainda resplandecia aquele belo sábado de outono. Antes disso ainda paramos no “Frango Assado” para almoçarmos ou fazer algo parecido com isso, já que nos alimentamos com lanches que em nada se assemelhava a uma refeição que o horário pedia.

Convencido de que retomaríamos o caminho correto, fiquei despreocupado quando o João assumiu o controle da situação indicando a rodovia que deveríamos seguir. Passamos por belas praias, sendo Ubatuba/SP a mais convidativa para uma parada em um de seus quiosques. Aquilo ficou apenas em pensamento, tínhamos mesmo que chegar ao nosso objetivo, que era retirar os kits, jantar e descansar tranquilamente para o desafio do dia seguinte. O plano estava todo traçado, mas novamente algo estava ERRADO, fomos parar em Parati/RJ, isso mesmo, cruzamos fronteira para fora do estado. Segundo o João, a cidade de Cunha poderia ser acessada a partir da divisa carioca, logo, não estávamos no caminho errado, mas sim numa rota alternativa mais longa (considerando o local de onde viemos).

Resquícios de um sábado ensolarado davam passagem a uma noite silenciosa, cuja estrada se mostrava cada vez mais deserta. Vários filmes me passaram pela cabeça: Rota 66, Não Há Vagas, Estrada da Morte e etc. O lado bom foi sempre manter a calma, toda intervenção do João, que era prontamente censurado pela Maristela (sua esposa), me fazia rir, era engraçado como eles debatiam a situação (começo a rir só de lembrar). A essa altura nem era mais a Malú ao volante, sendo assumido pela Maristela. Entramos na parte “desconhecida” de Cunha, o lado “carioca”, se é assim que podemos definir, o clima era de apreensão, ruas mal iluminadas, estradas que revelavam um asfalto "esquecido", mesclado com grandes imperfeições no solo, o que pode ser considerado como verdadeiras armadilhas.

Obtivemos a informação de que chegaríamos ao centro de Cunha se prosseguíssemos por aproximadamente quarenta e cinco quilômetros seguindo uma estrada totalmente fúnebre, com o agravante das chuvas dos dias anteriores terem castigado a estrada. Beirava às 20h00 quando decidimos fazer o caminho de volta, mas de volta à São Paulo, por alguns instantes chegamos a desistir da corrida. O volante havia trocado de mãos novamente, dessa vez o João assumia o controle das ações, já que as duas meninas estavam consumidas pelo cansaço. Uma viagem relativamente curta tinha tomado proporções fora de qualquer previsão, fugido à regra sob todas as perspectivas. Eu encarava tudo na maior tranquilidade, exceto pela chateação de ter que desistir da prova.

Foi aí que uma luz, na verdade uma placa (risos), surgiu mostrando que se pegássemos determinada rodovia, chegaríamos a Taubaté/SP e logo, a tão desejada Cunha. Derrubamos o pessimismo e a corrida entrou novamente nos planos. Mas o preço foi alto, seguimos por mais umas três horas de viagem por uma estrada totalmente íngreme, subíamos em curvas sinuosas e muito perigosas, a mínima desatenção poderia causar um acidente. Praticamente não havia outros carros, tínhamos o caminho só para nós, o que deixava o ar mais sinistro ainda. De tempos em tempos, surgia uma mórbida luz no horizonte que crescia a medida em que outro veículo se aproximava e passava por nós no sentido contrário. Elogios aqui para a qualidade do asfalto, em perfeitas condições, o que era uma preocupação a menos. Também não chovia, outro motivo a ser comemorado.

Parecia uma estrada sem fim, estávamos apreensivos pelo fato de haver poucas placas indicativas, será que estávamos mesmo no caminho certo? Pois bem, o final foi feliz, chegamos finalmente em Cunha, mas não sem cometer um último equívoco, ao entrar pelo portal principal da cidade, fomos informados de que teríamos que sair (pasmem, sair de um lugar em que procuramos o dia todo!), e acessar a entrada seguinte, onde estava localizada a pousada. Mas isso não custou nada para quem viajou o dia inteiro. Chegamos à pousada, por volta das 23h00, completamente exaustos, mas compensado pelo fato de ser um lugar bem aconchegante. Tomamos um banho e fomos direto dormir, já que teríamos que acordar bem cedo para encarar os morros daquela cidade.

Pousada
Acordei às 06h00 moído do dia anterior, como o café da manhã da pousada ainda não estava pronto, fomos desjejuar na padaria. A corrida estava marcada para as 08h00, tudo havia entrado nos eixos novamente, conseguiria correr e ainda voltar à capital paulista com tempo de sobra para descansar um pouco e trabalhar à noite (sim, o meu longo dia estava apenas começando). Retiramos o kit, uma camiseta razoável, número de peito com chip acoplado e nada mais. Fiquei meio frustrado, paguei R$ 159,00 na inscrição, além de ter doado três livros (boa iniciativa dos organizadores), penso que poderiam ter caprichado mais, ainda mais por ser um evento de nível nacional (diversos estados envolvidos nas demais etapas).

Eu, Maristela. João e Malú
Como não bastasse os contratempos do dia anterior, mais um imprevisto surgiu: a largada fora adiada para as 09h00, o que me deixou preocupado, pois o horário que eu havia planejado não contava com esse atraso, teria que rever meus planos, o que incluiria repensar se valeria a pena correr os 21Km, inicialmente previstos, ou reduzir para os 12Km (distância alternativa do evento). Mantive o objetivo de correr 21Km, mas com a condição de que tentaria fazer em até pelo menos três horas, com isso os planos de regressar à São Paulo sem sustos seria preservado (o risco acabou valendo a pena). Encontrei no evento o Jorge, o Toninho e outras pessoas que conhecia de vista. O dia estava aberto, o sol deu o ar da graça e espantou qualquer possibilidade de chuva.

Belo visual
Quando a corrida começou, percebi logo de cara o quanto seria difícil, uma subida em asfalto fez as honrarias da casa. Não lembro bem quando acessamos a área rural, sei que estava concentrado, preocupado apenas em me poupar, evitando qualquer desgaste que pudesse comprometer o meu rendimento. Não queria contar com a sorte, já que o final de semana estava pregando mais peças do que ajudando, por isso segui de forma cadenciada, sem qualquer ação precipitada. Cunha é conhecida por ser uma cidade com muitos morros, região cercada de muito verde, confirmei tudo isso quando deparei com a primeira “parede”, uma subida inacreditável, lembro que até ri de forma forçada naquele momento. A corrida em si foi tomada por uma exploração do tipo “trekking” guiado, daqueles em que pagamos um alto preço para contemplar belas paisagens, sem pressa alguma.

Bois pelo caminho
No meu caso, a pressa era uma dolorosa sensação, queria concluir o mais depressa possível, porém, os obstáculos que surgiam sucumbiam com as minhas pretensões. Resolvi parar de “remar” contra, onde era possível correr, eu corria, onde a caminhada era o inevitável, caminhava sem pensar nas dificuldades futuras. Um problema de cada vez, chega de sofrer, pensei. Mas o sofrimento parecia só aumentar, um percurso que exigia concentração, preparo físico, calma mental e muita força de vontade. Até bois e vacas surgiram no caminho, nada que causasse espanto, na verdade eu que devia causar estranheza aos pobres animais, por invadir o seu impassível território. As descidas eram igualmente complicadas, muitas pedras soltas, valas fechadas e abertas, mato espinhoso e tudo o que mais poderia ser considerado armadilha da natureza. Tomei cuidado para não me enroscar em cercas de arame farpado que haviam pelo caminho.

Montanhas

Uma grande falha da organização foi não ter marcação de quilometragem, isso me deixou desnorteado, não tinha noção de quando podia forçar ou reduzir a passada, sem dúvidas, me atrapalhou bastante. Em determinado momento, quando já vencera grandes obstáculos, cansado, mas com gás para seguir por mais bons quilômetros, adentrei a cidade e finalizei a prova. Fiquei feliz, mas também com uma ponta de frustração por ter concluído com a sensação de que poderia ter corrido com mais “profundidade”, se é que me entendem, ter exigido mais do meu corpo, mesmo com a preocupação inicial em querer apenas concluir o percurso. O tempo final foi de 02h32min, abaixo do que eu imaginara inicialmente, ainda mais após ouvir das pessoas que o percurso era tortuoso. De certa forma foi complicado, mas pensei que seria um “punk” elevado ao cubo (risos). Sofri mais pelo contexto do final de semana do que pela prova em si.

Linha de chegada
Para compensar todo o esforço, uma bela medalha como recordação. Não falei sobre a hidratação, costumo comparar esse quesito com um de juiz de futebol: se não foi lembrado é porque teve uma boa atuação. Assim defino o serviço oferecido pela organização. Sempre pensar muito, retornamos à pousada para finalizar a estadia, tomar um banho e arrumar as coisas. Retornamos à São Paulo da forma mais tranquila possível. A viagem seguiu sem qualquer imprevisto, até estranhamos (risos), depois de tantas peripécias pelas quais enfrentamos naquele final de semana. Foi divertido, gostei muito de conhecer a Maristela e o João, já temos planos de participar de outras corridas. O texto ficou longo, para não cansar muito, recomendo que leiam em partes…

Observação: exceto a foto oficial da prova e a da pousada, essa última fotografada pela Malú, as demais eu retirei da página pessoal do Antonio Carlos Meira (Toninho). Agradeço por elas!

Galeria de fotos:


Antes da prova
Pós-prova
Com o grande Antonio Meira (Toninho)
Mais um desafio completado!

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