sexta-feira, 30 de novembro de 2012

[ARTIGO] Correndo em São Bento do Sapucaí

São Bento do Sapucaí
Olá amigos, este é o último capítulo da Copa Paulista de Corridas de Montanha 2012, estou na cidade de São Bento do Sapucaí/SP para a última etapa do circuito, prevista para o dia 25/11/12. Foram muitos desafios ao longo do ano, muitos obstáculos, muitas risadas e vitórias alcançadas. Vitórias que não precisam ser aquelas destacadas apenas aos primeiros colocados, me refiro a todos os envolvidos neste empreendimento que gerou a soma de 11 etapas de corridas de montanha. Desde os mais fiéis ao circuito, que participaram de todas as provas, até aquele que foi apenas em uma corrida, mas que não deixou de prestigiar a proposta original do evento: a de proporcionar uma experiência diferente, que permitiu o atleta superar seus limites, tendo a natureza como grande oponente e/ou aliada nessa aventura.
Mandala completa
Cheguei á cidade de São Bento do Sapucaí ainda na véspera, dia em que iniciou a entrega do kit de participação. Optei por ir caminhando até o Bairro do Quilombo, cuja distância era de aproximadamente dois quilômetros do centro da cidade. Aproveitei e fotografei belas paisagens pelo caminho. O kit continha uma camiseta na cor azul clara, número de peito, chip de cronometragem, uma canequinha, uma revista Go Outside, uma bananinha de Paraibuna, além de diversas propagandas. Para os atletas que participaram de todas as etapas até aquele momento, a organização entregou gratuitamente um suporte de madeira que seria destinado ao posicionamento das medalhas, formando-se assim, a grande mandala. Apesar de ter corrido dez provas, das onze possíveis, eu fiz jus ao objeto pelo fato de ter estado inscrito na única prova que me faltou participar: a IV etapa em Campos do Jordão (fiquei doente à época).
Pousada Solar dos Colibris
Pousada Solar dos Colibris
Já com o kit em mãos, retornei à Pousada dos Colibris, localizada a cerca de trezentos metros do Restaurante Sabor da Serra, local em que ocorreria o jantar de massas. O restaurante é confortável, com uma boa decoração, por estar cheio naquela noite, o serviço de atendimento não foi dos melhores, ainda mais na hora de pagar, quando permaneci na fila por mais de vinte minutos. Mas isso não tirou o meu bom humor, afinal, as minhas atenções estavam voltadas para a prova, já que não conhecia o percurso e não tinha referência alguma a respeito. Só ouvia falar mesmo da “Pedra do Baú”, porém, o percurso se limitaria pela Serra do Coimbra, o que para mim dava na mesma, uma vez que não conhecia nenhum dos dois. De uma coisa eu tinha certeza: a chuva certamente deixaria o percurso mais “pesado” e com um grau de dificuldade ainda maior aos participantes.
Arte no Quilombo
Local de entrega dos kits
O domingo amanheceu nublado e com uma garoa fina, contexto perfeito para permanecer na cama até meio-dia (risos). Acordei por volta das 06h00 e rapidamente me troquei, sabia que levaria de trinta a quarenta minutos caminhando até o local da prova. Quando iniciei a caminhada pela subida de acesso ao Bairro do Quilombo, um carro que também ia ao mesmo destino me ofereceu carona, aceitei, pois ganharia tempo e pouparia energia. Cheguei ao Bairro do Quilombo antes das 07h00 (a largada oficial das suas distâncias, o curto 9Km e o longo 13Km seria às 08h00). Aos poucos os atletas foram chegando, as ruas sendo ocupadas por pessoas, um lugar que certamente passa boa parte do ano imerso em tranquilidade, estava excepcionalmente movimentado com pessoas ávidas por desafios. Para os corredores de montanha, a máxima que prevalece é o de “quanto pior, melhor”.
São Bento do Sapucaí/SP
São Bento do Sapucaí/SP
Por ser a última etapa, a organização dobrou a pontuação da prova para os participantes, resultado disso seria refletido no ranking geral e por categorias (idades), o que despertou o interesse de boa parte dos atletas. No meu caso, bastaria finalizar a prova para manter a segunda colocação no ranking masculino dos atletas de 25 a 29 anos. Confesso que isso nunca foi uma preocupação, porém, a cada prova concluída, tal pontuação passou a ganhar uma importância relativa, ainda mais sabendo que a chance de estar bem posicionado no final do ano já era uma realidade possível de acontecer. Aproveito para mostrar o meu pleno contentamento com a forma de pontuação, onde os pontos são calculados sobre aquilo que o atleta correu, fazendo com que o resultado seja justo e imparcial.
Pórtico de largada/chegada
Atletas antes da prova
A largada ocorreu às 08h00 em ponto, pontualidade essa que foi uma constante das Corridas de Montanha ao longo do ano, algo que deve ser enaltecido. Seguimos por uma rua estreita do Bairro do Quilombo, onde em pouco mais de três minutos iniciou-se uma verdadeira ladeira por uma estrada de terra, totalmente castigada pelas chuvas. Nem bem havia completado o primeiro quilômetro e boa parte dos atletas (inclusive este que vos escreve) estavam caminhando. Em determinados instantes era possível trotar, mas tudo em vão, pois subidas e mais subidas apareciam pela frente. A minha sensação era de cansaço, porém, o corpo estava em boas condições para correr, bastava apenas o percurso apresentar condições favoráveis. A verdade era que até o quilômetro cinco, não havia conseguido correr, impotência imposta pela altimetria da prova. Novamente contamos com a presença do Jimmy Cliff, assim chamado o cão do corredor Felipe Vizioli, que acompanhou o nosso amigo durante toda a prova.
Primeira subida
"Paredão" logo no primeiro quilômetro
Depois de muito caminhar, finalmente o trajeto teve uma mudança estratosférica, já que os barrancos deram lugar às descidas no melhor estilo “queda livre”, foi a partir daí que a prova começou para mim, corria feito um “cavalo doido”, pisava sem qualquer parcimônia pelos buracos, poças d’água, trechos muito escorregadios, a fim de compensar a peregrinação dos quilômetros anteriores. Até mesmo numa trilha sinuosa, segui firme e sem titubear, em alguns momentos levei tombos, todos eles caindo sentado, nada que me incomodasse. Parecia o cenário perfeito de um filme de terror, pois havia muita neblina, quem assistiu o filme “Pânico na Floresta”, sabe muito bem o que estou dizendo. Só de pensar que em 2013 essa prova será noturna, vale a pena adquirir boas lanternas.
Eu, durante o percurso
Início de prova
Após o término da trilha, um verdadeiro “clarão” abriu diante dos meus olhos, num trecho descampado, onde era possível fazer um giro de 360º pelo lugar, pisei num local extremamente liso e para evitar a iminente queda, segurei o meu corpo com toda força possível, momento em que senti um “tranco” na escápula direita (região superior das costas). Essa dor era uma ‘velha conhecida’ (contratura escapular), para não abandonar a prova (já que ainda estava no nono quilômetro), diminui drasticamente a velocidade e segui praticamente os quatro quilômetros restantes correndo com uma dor insuportável, que certamente pioraria quando o corpo esfriasse. Nunca havia desistido de uma prova e não seria naquele dia que tal fato iria acontecer. Tentei permear os meus pensamentos com coisas positivas, sabendo que após aqueles árduos quatro quilômetros, teria todo o tempo para me recuperar.
Muita neblina
Belo visual
Terminei com o tempo de 1h36min, razoável para todos os percalços enfrentados, fui direto para a ambulância da prova, onde recebi o primeiro atendimento (spray). Como nada é de graça, a última etapa da Copa Paulista de Corridas de Montanha cobrou um preço alto a todo aquele esforço empreendido ao longo do ano. Me considero um sobrevivente à todas as dificuldades impostas pela natureza e me vejo feliz em poder terminar este depoimento ansioso pelos desafios de 2013. Ainda que usando um colete cervical, tenho orgulho de tudo o que fiz, desde os pares de meias jogadas fora (impossível reaproveitá-los – risos), até os arranhões, quedas e situações inusitadas, nada disso tira o meu estímulo em continuar buscando vencer os desafios mais encardidos que possam aparecer. Frutas e isotônicos foram disponibilizados no pós-prova, bem como a premiação, que aconteceu sem atrasos.
Lugar incrível
Neblina continuava alta
Retornei à pousada Solar dos Colibris, graças a uma providencial carona do Eder Galhardo, corredor nato, que manteve a liderança na faixa etária dos 30-34 anos. Tomei um banho, tirei todo a sujeira do tênis e ainda com dores latentes nas costas, fomos até o Restaurante Sabor da Serra, local em que seria realizada a cerimônia de premiação do ranking. Não pensei duas vezes, para comemorar pedi uma garrafa da cerveja artesanal “Baden Baden – Bock”, de 600ml, e tomei-a inteiramente sozinho (risos). Um nítido contraste em relação a noite anterior, senti-me mais a vontade no restaurante, o serviço estava muito melhor, o que mudou o meu conceito a respeito do estabelecimento. A comida estava ótima, a carne macia e o clima era o melhor possível. Juntou-se a mim, ao Eder e a Renata o grande corredor Jorge de Jesus, onde tivemos um almoço bem agradável.
Almoço de confraternização pós-prova
Experimentando a cerveja da região
A premiação aconteceu no horário marcado, às 14h00, sendo a cerimônia aberta com as palavras de agradecimento do diretor do evento, o Fabio Galvão Borges, que enalteceu o crescimento desse segmento de corridas, além de trazer algumas novidades para 2013 (o calendário do próximo ano já está disponível no site www.corridasdemontanha.com.br). A primeira premiação foi do ranking geral longo, masculino e feminino, com os três primeiros e primeiras subindo ao pódio. Além do troféu, esses atletas ganharam um camelbak (mochila de hidratação). Depois disso, aconteceu a entrega dos troféus aos 10 primeiros colocados do ranking curto, em que todos, sem exceção, marcaram presença, surpreendendo o próprio Fábio. Tudo foi acontecendo de forma muito rápida, havia também vários fotógrafos, entre eles o Tião Moreira, os da Extreme Tours, além de outros, que registravam todos aqueles momentos.
Medalha
2° lugar Ranking 25-29 anos
A minha premiação foi um misto de ansiedade e alegria, contente por ter tido um bom rendimento ao longo da temporada (havia pegado pódio em quatro oportunidades: São Roque, Paraibuna, Piquete e Mogi das Cruzes), e também por saber que eram boas as chances de levar algum prêmio no ranking. Consegui manter a segunda posição no ranking 25-29 anos, o que me levou ao pódio pela quinta vez. Todos que subiram ao pódio ganharam uma camiseta especial da “Copa Paulista de Corridas de Montanha 2012”, além de bananinhas de Paraibuna e chocolates Suisse, cortesia dos patrocinadores do evento. A parte mais “salgada” ficou para o final (hora de pagar a conta – risos).
Pode ser pendurada na parede
Para não passar despercebido, momento antes da prova, o chip de cronometragem do Antônio Carlos Meira (o famoso “Toninho”) havia desaparecido, lembro que o Jorge e eu procuramos e reviramos o carro dele umas três vezes e nada. Nós suspeitamos de que alguém poderia tê-lo encontrado e inadvertidamente colocado no pé e corrido. Pois bem, assim que o Toninho cruzou a linha de chegada, foi direto à mesa de marcação de tempo e perguntou se o número dele havia cruzado a linha de chegada, ele recebeu a seguinte resposta “Sim, o chip foi marcado assim que o senhor passou no tapete”, foi aí que o Toninho percebeu que o chip estava sob um de seus pés, dentro do tênis! (risos). Mais uma boa história que só acontece com o Toninho.
Toninho com o chip antes do "sumiço" do objeto
São momentos como o citado acima que me faz gostar tanto desse tipo de prova. Para finalizar, quero aproveitar o espaço para agradecer a todos os envolvidos, desde a organização (cito o Fábio Galvão e a Juliana Ribeiro), que me concedeu o espaço no site Corridas de Montanha para dividir com todos a experiência de como é correr uma prova de montanha. Tive o prazer de conhecer muitas pessoas, de fazer boas amizades, de escutar boas histórias, de rir muito e passar por momentos inesquecíveis. Não faço deste artigo uma despedida, é apenas um “até logo”, pois em janeiro próximo teremos a abertura da Copa Paulista de Corridas de Montanha 2013, em Mairiporã. Portanto, utilizem o mês de dezembro para recarregar as energias, pois a próxima temporada promete ser melhor ainda!

Finalizo com a seguinte frase: “Nós caímos para aprendermos a nos levantar”

Um abraço a todos!

6 comentários:

  1. Nossa Daniel, parabéns mesmo por todas conquistas!
    Admiro muito a sua coragem de participar de um circuito tão difícil e técnico como este de corrida de montanha.
    Como sempre parabéns pela postagem, excelente em detalhes e percepções da prova.

    Um grande abraço e boa recuperação para você!

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  2. Daniel só agora tive tempo de vir conferir as suas façanhas nas corridas de montanhas, vc está de parabéns pelo relato e por todas as etapas concluídas vc é fera e com certeza se algum dia eu vier a correr alguma etapa dessas vou vir aqui pegar dicas com vcs...Showwww as 10 etapas medalhas e troféu lindo...vc é o cara.

    Boa semana e bons treinos,

    Jorge Cerqueira
    www.jmaratona.com

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  3. Show!!! Parabéns!!! E que venha 2013!!!

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  4. Parabéns Daniel! Adorei conhecer o Circuito de Montanhas relatado por um participante. Bons treinos!!

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  5. Olá, Daniel! Excelente relato!
    São Bento do Sapucaí é justamente o meu próximo desafio (e provavelmente a última prova que correrei esse ano)! Coincidentemente também subi ao pódio 4 vezes nesta Copa Paulista (SAP, Rio Grande da Serra, Campos do Jordão e Cantareira), entre uma lesão e outra! rs
    Alguma dica em especial para essa etapa?

    Abraço
    Gabriel (http://seelacorreeucorro.blogspot.com.br)

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    1. Olá Gabriel, tudo bem?

      Obrigado por acompanhar o meu relato, realmente foi um desafio e tanto. Ainda mais quando eu dei um mal jeito nas costas, parecia que havia sido ferido na "guerra" (risos). E não dava tempo para pensar muito nas coisas, o negócio era correr, o resto eu deixei pra depois (uma semana parado).

      Dica: tente dosar o ritmo no início, não precisa ir muito devagar, assim você terá boas condições a partir da metade da prova (onde muitos cansam e reduzem a velocidade). A largada é empolgação, todo mundo sai em disparada, tome cuidado, pois em poucos minutos, a maioria já está caminhando (subida tipo "parede" que aparece logo de cara).

      Boa prova, depois conte como foi!

      Abraço

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