sexta-feira, 20 de julho de 2012

[ARTIGO] Corrida de Montanha ao melhor estilo “vertical” em São Roque

Olá amigos, depois de um sábado agitado em Campos do Jordão, não tive muito tempo para pensar na estratégia para o dia seguinte, já que teria pela frente a VI Etapa da Copa Paulista de Corrida de Montanha, confirmada para acontecer na cidade de São Roque. Apenas a título de curiosidade, participei no dia anterior dos 18K Mountain Do Campos do Jordão, prova de montanha com largada prevista para as 14h45, em outras palavras, um evento cujo espaço de tempo seria menos de vinte e quatro horas para a imprevisibilidade de São Roque. Tenho plena consciência do risco que estava assumindo ao participar de duas provas no mesmo final de semana, digamos que fiz uso do famoso discurso “vamos ver no que vai dar”, sem pensar nas possíveis consequências. Fiz a retirada do kit na sexta-feira, na loja Mundo Terra, em Pinheiros, para evitar contratempos. Além da bela camiseta de tecido tecnológico, mais uma canequinha para a coleção, além do número de peito, chip de cronometragem e um voucher para utilização gratuita por trinta dias na Equipe Selva Aventura.
Ski Mountain Park
Ski Mountain Park: bora esquiar?
Dessa forma, ainda no sábado, cheguei a minha por volta das 23h30, coloquei o relógio para despertar as 03h00, pois havia acertado com o taxista para me buscar as 03h30, cujo destino seria conduzir-me ao Terminal Rodoviário da Barra Funda, de onde sairia o ônibus para São Roque. Pela primeira vez nos meus 27 anos de idade tive a oportunidade de chegar antes de a rodoviária abrir, impressionante ver aquela gigantesca estrutura completamente vazia. A partida do ônibus estava prevista para as 04h36, pela Viação Cometa. Muitos devem estar se perguntando até onde uma “corrida” é capaz de influenciar, envolver e mudar os hábitos de uma pessoa a ponto de esgotar-se os meios que ela dispõe para alcançar seus objetivos. Isso porque não é apenas a organização que tem que se preocupar com a logística, os corredores também enfrentam inúmeras dificuldades, a começar pelo deslocamento até o local onde ocorrem os eventos.
Pórtico de largada/chegada
Antes da prova
Cheguei a São Roque ainda sob o silêncio da fria madrugada, apesar de que a previsão do tempo prometia céu azul e muito sol para aquele domingo. Mais uma vez fiz uso do táxi, que me levou até o Ski Mountain Park, local da concentração do evento. Percebi que, exceto pelos staffs, fui o primeiro a chegar, o vento frio “cortava” a pele, de tão gelado e intenso que estava. O local tinha uma boa infraestrutura, com um espaço aberto suficiente para acomodar os atletas. Consegui encontrar um local onde pude me resguardar do frio, apesar de ser aberto, era uma espécie de varanda de um restaurante. Timidamente, o sol foi surgindo e aos poucos os raios solares iam atingindo as residências em São Roque. Paralelamente, os atletas foram chegando, o locutor transmitia as primeiras informações e assim, o evento ganhava “corpo”. A largada estava prevista para acontecer as 08h00.
Visual...
Antes da prova, encontrei alguns amigos e conhecidos, momento em que o locutor anunciou uma mudança de última hora que me deixou apreensivo: por questões técnicas, houve a necessidade do acréscimo de 2,9Km nas distâncias curta (9Km) e longa (12Km). Portanto, a minha prova estava girando na órbita dos 15Km (risos). Nem muito pela alteração da distância, eu estava mesmo ansioso a respeito do percurso, pois não havia nenhuma referência, por tratar-se de prova inédita. Para evitar problemas apresentados na largada da Etapa de Santo Antonio do Pinhal, a organização realizou duas largadas, a primeira para a distância curta, com um intervalo de dez minutos para os atletas inscritos na modalidade com distância maior. Isso agradou os atletas e evitou desgastes desnecessários.
Trilha aberta...
Prova difícil...
A prova nem bem começou e já encarei uma descida com proporções do tipo “ladeira ao contrário” (risos), num terreno acidentado (isso para não dizer esburacado), onde havia tudo menos estabilidade. Nenhum atleta poupou esforço, todos em passadas rápidas, fizeram dos joelhos uma verdadeira “engrenagem”, onde as pernas realizavam um movimento acelerado em direção aos obstáculos. Iniciar uma prova em descida era um fato raro em meu histórico de corridas, foram bons três ou quatro quilômetros correndo daquela forma, ora interrompidos por pequenos trechos de aclives inofensivos, onde desembocava numa nova descida. Ao final do que parecia ser aquela rede de instabilidade, um corredor passou perto de mim e comentou “em pensar que todo esse trecho será o retorno da prova!”, foi aí que o meu psicológico (ou parte do que sobrou de Campos do Jordão foi para o espaço sideral – risos).
Estradas acidentadas
Estradas muito acidentadas
Foi muito difícil correr com o peso na memória ainda latente de que o final seria praticamente uma peregrinação em busca do “paraíso” (o topo da colina). Fora esse “pequeno” detalhe, segui num ritmo consistente, sem perder contato visual com corredores que estavam à frente. Digo isso porque o percurso proporcionou uma boa dispersão entre os atletas, com isso, cada um correndo no seu ritmo, permitindo que não houvesse nenhum tipo de “engavetamento” (pelo menos sob a minha ótica). O cansaço do dia anterior e as poucas horas de sono começaram a pesar a partir do quilômetro oito, quando a caminhada passou a ser uma constante do percurso. Em determinados momentos era impossível correr, não havia uma estratégia mágica para vencer aquelas subidas a não ser caminhando. Confesso que proferia frases e comentários nada politicamente corretos (risos), tamanho era o meu desabafo para os intermináveis obstáculos. Ainda tive que desviar de um boi que estava solto na estrada, e não parecia nada amigável, demonstrava ser arredio até mesmo com o dono, que tentava dominá-lo e tirá-lo do caminho dos atletas.

Longas subidas...
Observem este vídeo feito por mim:



O sol havia consolidado sua presença de forma a ser mais um agravante do que um mero espectador daquele espetáculo, ninguém naquele momento seria capaz de acreditar que horas antes estava um frio incalculável naquele lugar. Os postos de hidratação funcionaram corretamente, frutas eram servidas com isotônico e água, sem os copinhos descartáveis, conforme disposto no regulamento do evento. Pensei que as subidas a céu aberto seriam em todo o percurso, quando fui surpreendido novamente, ao entrar numa trilha aberta, cuja paisagem exuberante pagava por todos aqueles perrengues que eu havia sofrido, até a entrada para uma espécie de “bosque”, onde a sombra valeu mais que dois litros de água. Naquele trecho havia inclusive uma fotógrafa solitária registrando os momentos dos corredores. Eu estava só a carcaça, parecia que eu estava correndo com bolas de ferro amarradas aos pés. Era a soma de tudo: cansado pelo dia anterior, dificuldade oriunda do percurso, calor, enfim, eu tinha os mais diversos subterfúgios a meu favor (risos).
O dia estava assim...
O final da prova foi angustiante, como não poderia ser diferente, mais uma subida para selar o desfecho, com o diferencial de que eram os metros finais da prova. Cruzei a linha de chegada literalmente me arrastando, com o tempo de 1h33min. Recebi a medalha correspondente da etapa, parte integrante da mandala que está sendo formada. Frutas e isotônico foram distribuídos para todos os atletas, sem limite de consumo. O guarda-volumes foi eficiente, não perdi mais que minuto aguardando a devolução da minha mochila. Para minha surpresa, conversando com alguns conhecidos, descobri que havia ficado numa boa colocação na faixa etária e, ao conferir os resultados preliminares, obtive nada menos que a 2ª colocação na categoria 18-29 anos. De forma que os três primeiros vão ao pódio, fiquei muito contente com aquele “improvável” resultado. Recebi um troféu em formato de “pedra moldada”, o meu primeiro no ano, premiando aquele final de semana ao melhor estilo “faca nos dentes”.
Pódio...
2º lugar na categoria
Até o presente momento, estive ausente apenas da Etapa de Campos do Jordão, porém, ao fazer o Mountain Do, corri em boa parte do percurso por onde passa a prova, e fazendo um feedback de todas as corridas de montanha que ocorreram na temporada, posso afirmar que a etapa de São Roque é a mais árdua do circuito. A organização merece os parabéns por ter encontrado um local muito bom para provas de montanha, onde o percurso explora muitos obstáculos, estradas de terra, trilhas abertas e fechadas, tudo isso num visual ímpar! Essa etapa teve um numero inferior de inscritos, comparadas as badaladas etapas de Paranapiacaba e Santo Antonio do Pinhal, porém, acredito que depois dessa estreia, tem tudo para ser a prova “casca-grossa” do calendário paulista de corridas de montanha.

Com a minha amiga Malú
Exibindo a conquista
Aproveito o espaço para agradecer aos leitores que enviaram comentários para o meu artigo “Quero correr uma Corrida de Montanha, e agora?”, na seção “Dica para iniciantes”. Espero continuar interagindo com todos vocês, pois essa troca de informações e vivências nos permite aprimorar e conhecer um pouco mais o atleta “anônimo” que cada vez mais procura a corrida de montanha como alternativa ao pragmatismo das provas urbanas. 

Vídeo oficial de São Roque:


Medalha da VI Etapa:
A VII Etapa da Copa Paulista de Corrida de Montanha será na pequena cidade de Paraibuna, no dia 29/07/12. Conto com a presença de vocês para mais um grande desafio! 

7 comentários:

  1. Dan, que maravilha!!!!! Fazer duas corridas seguidas de montanha com circuitos distintos e desconhecidos???? Só mesmo um espírito livre, aventureiro, competitivo e comprometido com suas metas e resultados, assim como vc, para encarar esse desafios! Que aventura hein? Gosto muito de com vc descreve suas corridas em detalhes, que até podem passar desaparcebidos para alguns, mas que para vc, um fanático por maratons (trocadilho) e para nossa sorte, até um céu lindo desses (foto) é destaque.
    Parabéns, Dan pela conquista, pois além da bela medalha/mandala, vc ainda subiu ao pódio! Só faltou a foto-close do seu troféu!!!! Pq esse foi merecido mesmo!
    Bjs e vamos as próximas....

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  2. Daniel, parabéns pela persistência, por ser fominha e por registrar pra gente essa bela prova.
    Parabéns pelo troféu, pelo pódio, por filma, enfim, se da próxima vez você tremer menos a câmera, melhor ainda... rsssss
    brincadeira!
    Belo registro, meu amigo.
    Abraços!

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  3. Oi, Daniel! Desculpe-me o sumiço! Peguei carona no seu vídeo, mas mesmo assim, não foi fácil... te acompanhar! Rsrsrs. Parabéns pelo pódio!

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  4. Que delícia esse contato com a natureza, praticar esporte no verde... Morro de vontade de fazer isso de bike.

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  5. Muito bom Daniel!!!! acabo de experimentar uma corrida de montanha a partir dos detalhes do seu relato, muiiiiiito bom!!! estou esperando o livro.....Marta

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